À partida, mal não faz. Mas, será necessário limpar tudo em que tocamos? Lavar as compras do supermercado ou as encomendas que chegam no correio? Desinfetar todas as superfícies, do chão às maçanetas das portas, dos interruptores aos tampos e bancadas? São ainda muitas as pessoas que mantêm o hábito adquirido há 13 meses – quando a pandemia foi decretada e muito menos conhecimento existia sobre a doença e a sua propagação. O pânico, mais ou menos infundado, de contrair o coronavírus levou e leva a que muitas pessoas se sintam mais seguras com todas as limpezas extra que passaram a fazer. E uma coisa continua certíssima: com regularidade, lavar bem as mãos com sabão, usar a máscara facial e arejar os locais são as armas de combate disponíveis por todos nesta batalha.
Dados recentes, da passada semana, publicados pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças americano (CDC, sigla em inglês) não desmentem que as pessoas podem ser infetadas com SARS-CoV-2 através do contacto com superfícies. Contudo, essa não é a principal via de disseminação e o risco é considerado baixo. A principal forma pela qual as pessoas são infetadas continua a ser através da exposição a gotículas respiratórias produzidas ao respirar, falar, cantar, gritar, tossir ou espirrar que transportam vírus infecciosos. Na maioria das situações, limpar as superfícies com sabão ou detergente, e não desinfetar (com produtos como álcool-gel), é suficiente para reduzir o risco.
O risco de transmissão via fómites (objeto ou material que pode alojar um agente infeccioso e permitir a sua transmissão) depende da taxa de prevalência de infeção na comunidade; da quantidade de pessoas infetadas com vírus que expelem (que pode ser substancialmente reduzida com o uso de máscaras); da deposição de partículas de vírus expelidas em superfícies, que é afetada pelo fluxo de ar e ventilação; da interação com fatores ambientais (calor e evaporação, por exemplo) causando danos às partículas de vírus enquanto estão no ar e em fómites; do tempo entre quando uma superfície é contaminada e quando uma pessoa a toca; da eficiência da transferência de partículas de vírus das superfícies dos fómites para as mãos e das mãos para as membranas mucosas do rosto (nariz, boca, olhos); da dose de vírus necessária para causar infeção através da rota da membrana mucosa.
Segundo os resultados de estudos quantitativos de avaliação de risco microbiano, o potencial de infeção é baixo, geralmente, menos de um em 10 mil, o que significa que cada contacto com uma superfície contaminada tem menos de uma em 10 mil probabilidades de causar uma infeção.
É de esperar que as concentrações de SARS-CoV-2 infeccioso em superfícies externas sejam menores do que em superfícies internas devido à diluição e ao movimento do ar, bem como às condições ambientais mais adversas, como a luz solar. Também a higiene das mãos pode reduzir substancialmente o risco de transmissão de superfícies contaminadas, enquanto a desinfeção de superfícies uma ou duas vezes por dia tinha pouco impacto na redução de riscos estimados.
Diversos investigadores analisaram por quanto tempo o SARS-CoV-2 pode sobreviver numa variedade de superfícies porosas e não porosas e concluiu que em superfícies porosas os estudos revelaram-se incapazes de detetar vírus viáveis em minutos a horas; já nas superfícies não porosas, os vírus podem ser detetados por dias a semanas. Pode ser esperada uma redução de 99% do SARS-CoV-2 infeccioso e outros coronavírus em condições ambientais internas típicas dentro de três dias (72 horas) em superfícies não porosas comuns como aço inoxidável, plástico e vidro. Além do uso do sabão comum nas situações do quotidiano, o CDC só recomenda o uso de desinfetantes especiais em ambientes comunitários fechados onde existiu um caso suspeito ou confirmado de Covid-19 nas últimas 24 horas.