Há cerca de três semanas, um único caso de Covid-19 na maior cidade da Nova Zelândia, Auckland, fez com que a primeira-ministra, Jacinda Ardern, voltasse a ordenar o confinamento nessa cidade. Este país tem feito um trabalho exemplar no que diz respeito ao combate à pandemia, com menos de 2500 casos registados e apenas 26 mortes desde o seu início.
Agora, investigadores do país descobriram, a partir da sequenciação do genoma do vírus em nove pessoas infetadas (e de terem encontrado ligação genética entre os nove casos), que o coronavírus foi transmitido num voo internacional entre a Índia e a Nova Zelândia, depois num corredor de hotel e, a seguir, entre contactos familiares, mesmo adotando todos os cuidados de proteção e distanciamento físico, assim afirmam.
Em setembro de 2020, foi detetado um caso positivo num dos passageiros que fez a viagem da Índia para a Nova Zelândia, no fim de agosto. Esse passageiro (e outros provenientes do mesmo voo) ficou 14 dias em quarentena num hotel na cidade de Christchurch e, tanto no 3º como no 12º dia de isolamento apresentou resultados negativos para o coronavírus. Depois desse tempo, viajou de Christchurch para Auckland e, quatro dias depois, revelou novamente sintomas e realizou um teste para o coronavírus, que deu positivo.
Os resultados do estudo, publicado na Emerging Infectious Diseases, dão conta de que alguns passageiros ficaram infetados durante esse voo, mesmo com a lotação do avião reduzida a um terço e com obrigação de utilização de máscara.
Além disso, os investigadores relatam que pelo menos dois dos passageiros que ficaram de quarentena no hotel de Christchurch, em quartos com casas de banho e varandas privativas, ficaram lá infetados, apesar de as imagens de videovigilância mostrarem que não houve contacto direto entre quem ficou, alegadamente, infetado durante o voo e estes dois passageiros, e que nenhum deles saiu do quarto enquanto esteve em quarentena.
Contudo, as imagens mostram, explicam os investigadores, que, durante os testes de rotina ao 12º dia de quarentena, que se realizaram à porta dos quartos do hotel, houve um tempo de 50 segundos entre o fecho da porta do quarto de um dos infetados no voo e a abertura das portas dos quartos dos outros dois passageiros, que acabaram depois por ficar infetados.
“Portanto, formulámos a hipótese de que as partículas de aerossóis suspensas foram responsáveis, provavelmente, pela transmissão do coronavírus, e que o espaço fechado e não ventilado no corredor do hotel facilitou esse evento”, lê-se no estudo. Depois dos 14 dias quarentena e de vários testes negativos, alguns dos passageiros viajaram para Auckland, onde foram recebidos por familiares e os investigadores afirmam que dois deles ficaram infetados.
De acordo com a equipa, os resultados obtidos neste estudo reforçam a necessidade de haver processos rigorosos de controlo de fronteiras para os países que “pretendam a elminação da Covid-19” com a maior brevidade possível.