O alerta chega de Jorge Sales Marques, chefe de serviço de pediatra do Centro Hospitalar de Gaia: “Há um risco acrescido de morte súbita por miocardite (inflamação do músculo do coração) depois de se ter sido infetado com Covid-19”. Por isso, o especialista diz ser importante que sejam tomadas medidas preventivas e de acompanhamento médico em relação aos jovens que praticam muito desporto. “É fundamental que haja um protocolo de seguimento a estes jovens para reduzir o risco de uma possível situação inesperada e trágica”, avisa o pediatra que durante os primeiros meses da pandemia, em 2020, esteve nos serviços de saúde de Macau.
Recordando que inicialmente a Covid-19 atingiu predominante pessoas a partir dos 65 anos, existindo pouca possibilidade de atingir crianças e adultos com idade inferior a 20 anos, o médico garante que agora a situação mudou. Primeiro verificou-se, sublinha, que as crianças “eram afetadas mas na maior parte casos, ficavam assintomáticas”. Mas com o tempo, o SARS-CoV-2 não só se tornou mais contagioso entre os jovens como foram sendo registadas várias e novas consequências. “ Os sintomas da Covid-19 , com a evolução da pandemia foram variando, passando de quadro respiratório predominante até situações graves de vasculite e (inflamação de vasos sanguíneos) e miocardites”, indica.
Por outro lado, acrescenta, com “o aparecimento das novas variantes, como a britânica, a sul africana e a brasileira , o grau de contágio aumentou significativamente”, ao mesmo tempo que muitos sobreviventes têm sequelas neurológicas e cardiovasculares.
“O alvo preferencial do vírus passou da faixa etária avançada e com doenças crónicas para a camada mais jovem, estudantil em muitos casos, invertendo progressivamente a idade predominante no internamento e cuidados intensivos”.
Desta forma, Jorge Sales Marques diz ser essencial ter atenção à prática de desporto nos que tiveram a doença. “A Academia Americana de Pediatria (AAP) divulgou recentemente orientações sobre o retorno à prática desportiva , e recomenda que os médicos dos cuidados primários, observem todos os pacientes com Covid-19 antes de regressarem à atividade desportiva. Os médicos devem rastrear sintomas cardíacos, como a dor torácica, falta de ar, fadiga, palpitações ou síncope”, aconselha. Frisando que a comunidade médica ainda “não sabe ao certo todos os mecanismos fisiopatológicos do vírus”, o especialista defende que a prevenção é essencial, para se “conseguir evitar um quadro fatal de miocardite após o retorno à sua atividade desportiva”.
Para isso, Jorge Sales Marques deixa três sugestões:
1 – Doentes graves devem ficar sem exercício físico de 3-6 meses
“Os estudantes com doenças graves devem ser impedidos de praticar exercícios durante 3-6 meses e orientados de preferência para a consulta de cardiologia pediátrica”, diz, explicando que a “avaliação cardíaca pode incluir a colheita de sangue para a determinação da troponina e velocidade de sedimentação e a realização de ECG, ecocardiograma e ressonância magnética cardíaca”. Segundo a Academia Americana de Pediatria, adianta, “é considerado doença grave quando os pacientes com Covid-19 foram hospitalizados e tiveram episódios de hipotensão ou arritmias; intubação; oxigenação por por membrana extracorporal (ECMO); insuficiência renal ou cardíaca e síndrome inflamatória multissistémica pediátrica (MIS-C)”.
2-Quem não tem sintomas deve repousar 14 dias
Quanto aos jovens assintomáticos ou com sintomas leves, o médico considera que “devem ficar em repouso durante 14 dias após o teste positivo para a Covid-19”. E depois do período infecioso, um médico, diz, “deve avaliar se o doente apresenta sintomas cardíacos”.
3 – Doentes moderados devem ir a consulta
Qualquer jovem com febre prolongada ou sintomas moderados deve consultar o pediatra ou o médico dos cuidados primários e fazer um ECG , antes de retornar a atividade desportiva.