A última sequenciação genética do SARS-CoV-2 em Portugal, realizada pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), na segunda semana de janeiro, revelou resultados surpreendentes, admitiu um dos responsáveis pela investigação, o epidemiologista João Paulo Gomes, esta terça-feira, no auditório do Infarmed. Se, por um lado, a variante do Reino Unido tem, neste momento, uma presença em Portugal mais diminuta do que a prevista; a variante da Califórnia alastrou-se.
No primeiro mês do ano, 16% dos casos de Covid-19 detetados em Portugal tinham uma ligação à variante do Reino Unido, “dois ou três” à da África do Sul e 6,8% à da Califórnia. O motivo de destaque é o último resultado: “não estávamos à espera disto”, admite João Paulo Gomes, que explicou ainda que, na última sequenciação que o INSA fez, em novembro, tinham sido encontrados apenas dois ou três casos associados a esta mutação do vírus e que agora já são 6,8% e estão “espalhados por 32 concelhos”.
“Naturalmente, estaremos atentos para perceber se vai continuar a disseminar-se”, comprometeu-se o epidemiologia do INSA, ressalvando, no entanto, que “não estamos a falar da variante da Califórnia que começou a disseminar-se muito na Costa Oeste dos Estados Unidos, mas de uma que partilha uma variação de interesse com essa variante”.
Já, quanto à evolução da variante britânica, as notícias são um pouco mais animadoras. De acordo com João Paulo Gomes, entre 1 de dezembro e 7 de fevereiro, o INSA estima que tenham circulado no País “cerca de 120 mil casos com padrão de mutações associadas à variante do Reino Unido”. O que fica aquém da previsão de que, por esta altura, 65% dos casos de Covid-19 em Portugal estariam ligados a esta mutação do vírus. “Desviámo-nos completamente da curva projetada na altura [última reunião do Infarmed] e isso são otimistas noticias”, disse, perante um auditório vazio, pois desta vez apenas os especialistas entraram na sala e os políticos e parceiros sociais encontram-se a acompanhar a reunião por videoconferência.
Mas, mesmo um pouco mais contida, não é descartar que a variante do Reino Unido tem uma carga viral 20 vezes superior à das outras variantes e tem aliás uma mutação comum às da África do Sul e do Brasil, o que faz com que sejam as três mais facilmente transmissíveis. Em Portugal, no caso da primeira referida, em dezembro, em 50 mil testes de rastreio à Covid-19 positivos analisados pelo INSA, nove mil estavam associados à variante do Reino Unido, aponta o especialista, que criticou ainda o alerta demorado das autoridades de saúde internacionais para esta nova mutação.