Apesar de terem levado a primeira dose da vacina, há profissionais de saúde que estão a ficar infetados com Covid-19. Alguns dos casos verificaram-se na Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa. Maria do Rosário Marques, 64 anos, anestesista, foi vacinada no dia 27 de dezembro, primeiro dia da vacinação no País. Mas dia 7 janeiro começou com sintomas que se agravaram dia 8 e na madrugada de dia 9 teve a confirmação de um teste realizado no hospital: estava positiva. E apesar de imunizada com a primeira dose teve vários e intensos sintomas . “Comecei com muitas queixas e cheguei a ficar em observação”, conta à VISÃO, explicando que no hospital decidiram fazer-lhes o teste mesmo tendo sido vacinada com a dose inicial. “Eram duas da manhã quando me ligaram a dizer que estava positiva”.
Segundo dados que têm sido divulgados, a primeira dose dará já alguma imunidade, não muito superior a 50%. De acordo com um estudo publicado no New England Journal of Medicine, a eficácia da vacina entre a primeira e a segunda dose, ronda os 52%. Além disso, essa proteção de 52% só começa a fazer efeito 12 dias após a injeção. Só depois de tomada a segunda dose, e ao fim de sete dias, a imunidade atinge os 95%.
Maria do Rosário terá sido contaminada mesmo no limite do período em que a primeira dose começa a produzir alguma imunidade. A médica garante que não sabe onde terá sido infetada, até porque anda sempre de máscara FP2 . Desde dia 24, véspera de Natal,fez vários bancos na unidade de saúde e, de resto, esteve sempre em casa.
Outra médica da MAC, Teresa Rocha, 63 anos, que foi igualmente uma das selecionadas para ser vacinada no dia 27 dezembro, está também, neste momento, contaminada. No seu caso, soube por um teste no dia 12 janeiro e depois de ter estado em contacto com uma pessoa que veio a dar positivo. “Só tirei a máscara para comer uma maçã”, garante.
“Isto mostra que a vacinação não é a salvação de tudo”, diz, lembrando que se as pessoas não começarem a ter comportamentos corretos é impossível conter o vírus, pois até que se fique imunizado com grande percentagem demora muito tempo.
No seu caso, acredita que a vacina a salvou de ter uma doença mais grave. “Tenho comorbidades e acho que se não tivesse sido vacinada com a primeira dose estaria muito pior”. Teresa Rocha, anestesista, explica que apenas teve sintomas ligeiros “como se fosse um síndrome gripal” – pingo no nariz e tosse. Ia levar a segunda dose neste domingo, dia 17. “Mas já me ligaram a dizer que não era preciso.”
Estes casos não são únicos. Um médico que faz urgências num grande hospital de Lisboa, e que também levou a primeira dose com os lotes iniciais da vacina da Pfizer, no dia 27 de dezembro, diz que no dia 13 de janeiro começou com tosse e febre, (38 graus) e decidiu fazer o teste. Deu positivo. No seu caso acredita que tenha sido contaminado nas urgências, onde as pessoas se acumulam. “A situação está caótica. Ausência de distanciamento, janelas fechadas, ar condicionado ligado, utentes que bebem cafés das máquinas enquanto esperam pela sua vez, outros que comem sanduíches e tiram as máscaras. Há idosos que chegam dos lares, com as máscaras abaixo do nariz”, relata, acrescentando: “Este tipo de comportamento são evitáveis e depende de todos nós. Passaram 10 meses de pandemia e não aprendemos ainda a lição.”