Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 650 mil pessoas morrem anualmente vítimas de uma queda, fazendo desta a segunda maior causa de morte acidental no mundo depois dos acidentes de trânsito. Os idosos são o grupo de maior risco, mas a diferença em relação a outras faixas etárias está a diminuir. Os seres humanos estão a perder equilíbrio e a mudança no estilo de vida é a principal responsável.
“O equilíbrio requer uma série de informações sensoriais”, começa por explicar Dawn Skelton, professora do departamento de Fisioterapia e Paramedicina da Universidade Glasgow Caledonian, no Reino Unido, à BBC. Caminhar sob duas pernas e de forma ereta faz parte da condição humana, mas são necessários ter em conta vários fatores externos.
“Aos dois ou três anos, a criança para de cair com tanta frequência. Isso porque o sistema nervoso está a começar a integrar as informações dos músculos, dos olhos e dos ouvidos, e a entender melhor como manter o equilíbrio. Ao brincar e fazer muita atividade física, ela coloca tudo isso em prática regularmente”. O processo de desenvolvimento humano tem um papel fulcral no equilíbrio e mostra como, no início, não é fácil manter o corpo apoiado apenas nas duas pernas. Com o tempo, as mudanças no estilo de vida vieram complicar a forma como nos mantemos equilibrados, desde o sedentarismo à visão de curta distância.
Olhando para trás, o ser humano tem adotado uma forma de viver muito mais sedentária. “Há duas gerações, a maioria das crianças ia a pé para a escola e não sentada num carro. E hoje, nas escolas, pratica-se muito menos atividade física”, diz Skelton. Em adultos, tem-se adotado mais trabalhos sentados – o teletrabalho em massa durante a pandemia veio mostrar como não se está a desafiar o equilíbrio humano. Tudo isto preocupa os especialistas em relação ao futuro: “A minha preocupação não é apenas o equilíbrio, mas o que vai acontecer com os índices de fratura. Como não construímos densidade óssea suficiente, elas vão acontecer mais cedo”.
Também a dependência dos meios eletrónicos põe à prova a visão de longa distância e pode ter um papel negativo para o equilíbrio. “Se se ficar a olhar para um ecrã, a visão será afetada. Olhar por muito tempo para algo que está perto vai fazer com que se torne míope, porque não se está a usar os olhos para olhar mais longe e a visão faz parte do mecanismo de equilíbrio”.
“A visão é um dos elementos principais, mas não o único. Os seus olhos trabalham com os seus ouvidos e o sistema vestibular do ouvido interno, uma série de canais com fluidos que se movem quando mexemos a cabeça, para informar ao cérebro em que direção se encontra e quão rápido se move”, continua.
Para contrariar a tendência, Skelton enumera um conjunto de possíveis soluções, entre elas as atividades que incentivem ao exercício físico. Dançar, fazer desportos de raquetes ou andar de bicicleta são formas de desafiar o equilíbrio, mas quem não quiser fazer muito esforço físico pode optar por uma simples caminhada, explica. “O equilíbrio não é apenas uma questão de ter tornozelos fortes ou flexíveis, trata-se também de o nosso cérebro integrar informações rapidamente e agir rapidamente com base nelas”, conclui.