Foi no sábado passado que o primeiro-ministro anunciou não existir um limite de pessoas para as reuniões familiares natalícias, depois de comunicar ao País o alívio de algumas restrições das medidas do combate à pandemia durante o período do Natal. “Não deve ser o Estado a imiscuir-se na organização da vida das famílias”, justificou António Costa, insistindo que há hoje “suficiente informação” para todos saberem que “os encontros são momentos de risco”. Perante a perspetiva de poder festejar a época festiva com os familiares, os portugueses lançaram-se numa corrida aos testes rápidos de diagnóstico – à procura de uma garantia da ausência do SARS-CoV-2 perto da consoada.
“Há realmente uma grande afluência”, confirma à VISÃO Francisco George, ex-diretor geral da saúde e presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, uma das instituições autorizada a fazer os testes de antigénio, conhecidos como testes rápidos por darem uma resposta em apenas 15 minutos. “Demonstra que há zelo dos portugueses em relação às festas da família e que estão a ter o cuidado preventivo de saber se estão ou não infetados antes de decidirem participar nessas festas”, prossegue o responsável daquela instituição, adiantando que é realmente muito difícil encontrar vaga para fazer teste nos dias 21, 22 e 23. Em Lisboa e Coimbra, os horários estão todos preenchidos; há apenas alguma disponibilidade nos centros de análise do Porto e da Maia.
“Estamos agora a tentar reforçar as equipas e a tentar reduzir o tempo de realzação do teste de cinco para quatro minuto de forma a conseguir responder a mais pedidos”, adianta ainda Francisco George, assinalando que fazer o teste antes daquelas datas não serve o propósito, por ser demasiado cedo.
“De qualquer forma, é preciso dizer que os resultados destes testes são depois encaminhados para os serviços da Direção-Geral da Saúde, e que, em caso positivo, trata-se sempre de um caso de infeção e a pessoa deve ir para casa e ligar à linha da Saúde 24”. Já se for negativo “é imensa a probabilidade de não estar infetado, cerca de 95%”, sublinhou ainda Francisco George, “mas se houve suspeição de contacto com alguém infetado, o teste deve ser repetido”.
Por 20 euros e sem necessidade de requisição médica, os testes de antigénio estão disponíveis nos 26 postos fixos e 18 móveis da Cruz Vermelha em todo o País e estão a ser feitos em média entre 1100 e 1200 testes por dia – além dos testes PCR que, por serem feitos em laboratório, são mais caros (60 euros) e demoram mais tempo a dar uma resposta.
Autorizados, mas não (muito…) recomendados
É uma situação muito semelhante à que se vive nos centros fornecidos pela Unilabs, a multinacional suíça que é líder de mercado em diagnóstico clínico integrado e detém mais de mil unidades de atendimento no nosso país – e cujo CEO, Luís Menezes, confirmou também, ao Expresso, um “enorme aumento da procura” depois da última comunicação de António Costa ao País. Segundo disse, o que está a verificar-se são “grupos de quatro ou cinco pessoas a procurarem fazer marcações em simultâneo” e a perguntarem “se terão o resultado antes de dia 24.”
A disponibilização destes testes, apesar de autorizada pelas autoridades de saúde, não é, no entanto, recomendada à população de uma forma generalizada.
“Os testes rápidos à Covid-19 podem ser aplicados de acordo com a situação clínica e epidemiológica, mas devem ser utilizados com ponderação e reserva”, resumia uma circular conjunta da Direção-Geral da Saúde, do Infarmed e do Instituto Ricardo Jorge, emitida em meados de outubro, pondo assim fim a algumas das dúvidas que então existiam sobre a utilização dos conhecidos testes rápidos em Portugal.
“Devem ser utilizados de acordo com a situação clínica, epidemiológica e o objetivo para o qual se destinam: deteção de casos de forma rápida, para a célere implementação de medidas de controlo da transmissão do SARS-CoV-2”, refere o documento, sendo recomendada “ponderação e reserva na sua utilização em casos sem critérios clínicos e epidemiológicos”, adianta ainda a circular informativa conjunta “Diagnóstico COVID-19 – Testes de pesquisa de antigénio”.