Os homens correm um risco maior de desenvolver sintomas graves – e morrer – se infetados com a Covid-19, mas estudos recentes sugerem que ficar infetado e sofrer depois com os efeitos de longa duração da doença é (muito) mais comum entre as mulheres que passaram pelo período da menopausa.
São dados que estão a levar cada vez mais investigadores a questionar se hormonas como os estrogénios podem desempenhar um papel protetor, já que têm níveis mais elevados nas mulheres do que nos homens, mas diminuem à medida que as mulheres ultrapassam a menopausa.
“Pode bem ser mais uma pista para compreender melhor a nossa resposta imunitária”, sustenta, citada pelo The Guardian, Claire Steves, investigadora interessada nas interações entre a saúde e o bem-estar mental durante o processo de envelhecimento, e que está agora na equipa de estudo dos sintomas da Covid-19 do King’s College de Londres, no Reino Unido. Num estudo preliminar, Steves e os seus pares garantem ter dados a confirmar que as mulheres na pós-menopausa correm maior risco de ficar infetadas com o SARS CoV-2 do que outras da mesma idade, e índice de massa corporal semelhante, que não tenham ultrapassado essa fase. Há também indícios, asseguram, de que as primeiras têm uma probabilidade maior de desenvolver sintomas mais graves. “Não estamos a dizer que é apenas um problema das mulheres com mais de 50 anos”, justifica aquela investigadora, “mas é efetivamente o grupo em que a taxa é mais alta”.
Do efeito protetor do estrogénio…
Do seu lado está já Betty Raman, especialista em medicina cardiovascular da Universidade de Oxford, ao garantir que “tanto a idade como o sexo parecem ter importância” quando se trata de compreender melhor os sintomas e efeitos a longo prazo da Covid-19. Raman e os seus colegas estão a acompanhar um grupo de 58 pessoas que foram hospitalizadas, tendo já verificado que a fadiga moderada a grave é bem mais frequente entre as mulheres com mais de 50 anos. “tudo indica que há uma forte correlação entre os níveis daquelas hormonas e a gravidade da doença”, frisou a especialista, a lembrar ainda que o estrogéneo é conhecido por ter um efeito benéfico numa série de outras patologias, como é o caso da doença arterial coronária, que é mais comum nos homens do que nas mulheres.
Mas Raman e Steves não são as únicas a insistir na necessidade de se aprofundar o conhecimento entre aqueles dois fatores – um apelo que já atravessou o Atlântico e chegou a James O’Keefe, cardiologista americano e professor de medicina na Universidade do Missouri-Kansas, nos EUA. “Faz todo o sentido considerar que o estrogénio é protetor também nestes casos porque sabemos, de outros estudos, que é uma hormona que ajuda a melhorar alguns aspetos da imunidade”, concorda O’Keefe. Além disso, acrescenta, “também contribui para o bom funcionamento dos pulmões e do sistema cardiovascular”.
Louise Newson, especialista em menopausa e fundadora do Menopause Charity, instituição dedicada ao tema sediada em Inglaterra, fez, entretanto, já questão de acrescentar que cada vez mais mulheres têm relatado alterações nos seus ciclos menstruais depois de terem sido infetadas com o SARS CoV-2, além de sofrerem sintomas mais graves sempre que os níveis hormonais estavam mais baixos. “Sabemos também que há uma elevada proporção dos recetores ACE2, que são os principais responsáveis pela entrada do coronavírus no corpo, nos ovários”, sublinha Newson, considerando mais que provável que o facto tenha ligação direta com a redução dos níveis de estrogénio – o qual, como se sabe, é produzido por aquelas glândulas do sistema reprodutor feminino.