Os participantes num novo estudo, levado a cabo pelo instituto La Jolla e pela Universidade da Califórnia, em San Diego, apresentam defesas fortes e duradouras contra a Covid-19, mesmo depois de oito meses após a infeção. Segundo os especialistas, após depois deste período, os recuperados estavam dotados de células imunológicas suficientes para afastar o vírus e que essas defesas robustas podiam durar “décadas”.
Apesar de ainda não ter sido revista pelos pares, esta é a investigação mais abrangente feita até hoje sobre a memória imunológica ao coronavírus. “Esses níveis de memória [imunológica face ao vírus] provavelmente evitariam que, durante muitos anos, uma vasta maioria de pessoas fosse hospitalizada com o vírus e desenvolvesse uma forma grave da doença”, explica ao The New York Times Shane Crotty, uma das responsáveis pelo estudo.
A longa durabilidade das defesas vem ainda questionar o debate sobre a revacinação para garantir uma maior imunidade. Ao El País, Marcos López Hoyos, presidente da Sociedade Espanhola de Imunologia, vai ao encontro das conclusões do estudo norte-americano: “As pessoas estavam a começar a dizer que os anticorpos estavam a desaparecer, que as defesas não durariam muito, que teriam que ser revacinadas. Bem, parece que não. O lógico é que a resposta dure e proteja.”
Neste estudo, a equipa de investigadores acompanhou 185 homens e mulheres, com idades compreendidas entre os 19 e os 81 anos, que recuperaram da Covid-19. Destes, a maioria apresentou sintomas leves, mas que não exigiram hospitalização. A investigação debruçou-se em quatro importantes componentes do sistema imunológico – “anticorpos, células B e dois tipos de células T, que matam outras células infetadas”. Os especialistas alertam que é preciso olhar para o panorama como um todo: “Se se olhar apenas para uma (componente), pode-se realmente estar a perder o quadro completo”, disse Crotty, do instituto La Jolla.
“Quero mandar uma mensagem de otimismo às pessoas, embora ainda seja muito cedo e devemos ser cautelosos: as infeções induzem a imunidade e essa imunidade protege”, diz López Hoyos, imunologista do Hospital Marqués de Valdecilla.
A investigação sobre a imunidade tem conquistado maior destaque nos últimos tempos numa altura em que já se começam a mediatizar alguns casos de reinfeção pelo novo coronavírus. “A pesquisa enquadra-se noutra descoberta recente: que os sobreviventes da SARS, causada por outro coronavírus, ainda carregam certas células imunológicas importantes 17 anos após a recuperação”. Recorde-se que o mundo já conheceu um outro coronavírus, que surgiu na China em 2002 e que matou quase 800 pessoas.