Jeremy Farrar, também diretor do Wellcome Trust – uma fundação britânica focada na investigação biomédica – acredita que estirpes em mutação do novo coronavírus podem ser transmitidas de ratos, ratazanas, furões e visons para o ser humano.
Como consequência, o vírus poderá voltar a assolar a população humana no futuro.
O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (CEPCD) confirmou num relatório intitulado “Avaliação Rápida dos Riscos: Deteção de novas variantes do SARS-CoV-2 relacionadas com visons” que a transmissão de Covid-19 de visons para o ser humano pode ocorrer – avançando que os surtos de Sars-CoV-2 em quintas onde habitam estes animais são um “sinal de preocupação”.
Os visons são conhecidos por serem suscetíveis a contrair e transmitir coronavírus e, tal como os humanos, podem apresentar um largo espectro de sintomas que vai desde serem assintomáticos a problemas graves, tais como a pneumonia.
Os cientistas suspeitam que o vírus se transmite rapidamente em comunidades de visons através de gotículas infeciosas presentes na comida ou através pó nos excrementos. Por isso, temem que os visons se tornem verdadeiros “reservatórios” do novo coronavírus e propõem a vigilância de animais selvagens e domésticos.
“Embora o risco de transmissão transfronteiriça destas variantes de Sars-CoV-2 através de animais e dos seus produtos seja muito baixa, é importante que as pessoas evitem o contacto próximo com quintas de visons,” disse Nikolaus Kriz, um dos autores do relatório disse à BBC.
A Organização Mundial da Saúde Animal apelou aos países para monitorizarem animais suscetíveis a contrair e transmitir Covid-19, assim como os seres humanos que mantêm contacto com eles, uma vez que poderiam tornar-se potenciais riscos para a saúde pública.
“O risco de animais suscetíveis, tais como os visons, se tornarem um reservatório de SARS-CoV-2 gera preocupação a nível mundial. Tal fenómeno poderia constituir um risco contínuo para a saúde pública e levar a futuras vagas de transmissão nos seres humanos”, disse a organização num comunicado.
No início deste mês, cientistas dinamarqueses soaram o alerta após terem sido descobertas mutações do novo coronavírus em quintas de visons – o que podia constituir uma ameaça à eficácia de uma eventual vacina contra o SARS-CoV-2.
Em resposta, o governo dinamarquês ordenou o abate em massa de até 17 milhões de visons e um confinamento de quatro semanas para pessoas que vivam no noroeste do país.
As autoridades estão particularmente preocupadas com uma estirpe do vírus associada a visons e encontrada em 12 pessoas.
As mutações em estirpes do novo coronavírus tornam-se especialmente preocupantes se atingirem a proteína que envolve a célula viral (spike), uma vez que, esta é o principal alvo das vacinas que estão a ser desenvolvidas.
Anders Fomsgaard, chefe da investigação do vírus no Statens Serum Institute em Copenhaga, disse à BBC: “A mutação [do Sars-CoV-2] está sempre a acontecer, mas de vez em quando estas mutações acontecem na proteína do spike. Por isso, ficamos um pouco nervosos quando vemos mutações que mudam os aminoácidos e a forma desta proteína”.
No relatório, o CEPCD concluiu que será necessário recolher mais informação para saber como é que as mutações do novo coronavírus poderão pôr em causa tratamentos ou a vacinação.