A tese é simples: faz tudo parte do curso natural da construção da imunidade ao longo do tempo. Pelo menos é o que defendem alguns especialistas ouvidos pela revista Wired. Os mesmo que — e a expressão é exatamente esta — respiraram de alívio quando foram noticiados os primeiros casos de reinfeção.
A verdade é que desde que foi declarada a pandemia que os cientistas de todo o mundo têm avisado para a possibilidade de as pessoas apanharem este SARS CoV-2 mais do que uma vez. E essa previsão era feita com base no que já se sabia sobre outros vírus respiratórios. Na maioria dos casos, sobreviveram aos surtos iniciais, passando a circular sazonalmente e a provocar apenas doenças ligeiras. As pessoas que adoecem ficam depois com uma resposta imunitária que as protege durante algum tempo. A dada altura, essa proteção diminui e torna-as suscetíveis a nova infeção. Mas que é quase sempre menos letal.
Assim, desde que, esta segunda-feira, os investigadores da Universidade de Hong Kong confirmaram o primeiro caso de reinfeção com o SARS CoV-2, que essa esperança de um processo semelhante com este coronavírus se renovou. Pelo menos para alguns dos cientistas que estudam o sistema imunitário.
De uma forma muito, mas muito mais branda
“Dizemos que é uma boa notícia porque esta pessoa parece ter ficado protegida”, avança Donna Farber, imunologista da Universidade de Columbia, nos EUA. “É como se recebesse uma vacina de reforço”, exemplifica. Mas o que é mesmo importante, assinala a mesma especialista, é que desta vez o sistema imunitário parece ter feito o seu trabalho e eliminado o vírus sem dramas. “Normalmente, nem seria notícia, porque a pessoa em questão nem sequer ficou doente”.
Claro que só um ou outro caso, aqui e ali, não são suficientes para garantir o processo de imunidade com as certezas necessárias. Isso está bem sublinhado no relatório publicado na revista Clinical Infectious Diseases, e foi reafirmado à mesma Wired por Yuen Kwok-yung, um dos investigadores que liderou o trabalho.
No seu entender, é até muito “improvável” que a imunidade de grupo possa eliminar o SARS CoV-2. Mas, ao mesmo tempo, “é bem possível que as infeções subsequentes sejam mais brandas do que a primeira infeção. Tal como acontece com este primeiro doente”. É a lógica de que fala também Susan Kline, médica e epidemiologista de doenças infeciosas da Universidade do Minnesota, nos EUA. “Suspeito que haja muito mais doentes como este por aí”, remata.
Será que o anúncio de mais casos de reinfeção na Bélgica e na Holanda é a realidade a querer confirmar-nos esta tese? Bom, para saber isso com toda a certeza ainda é preciso, sublinham todos, esperar mais um pouco.