Um estudo realizado por especialistas de saúde das Universidades do Texas, Hong Kong, Pequim e Cambridge, concluiu que o intervalo serial de transmissão diminuiu devido, particularmente, às medidas de isolamento.
O intervalo serial de transmissão diz respeito à quantidade de tempo que demora, em média, para que um novo infetado manifeste sintomas. O intervalo serial para o coronavírus é estimado em 5 a 6 dias, sendo que quanto menor for esse intervalo, mais rapidamente o vírus se expande, uma vez que demora menos tempo para que ele se possa replicar.
Estudos recentes demonstram que diversos fatores demográficos e sociais podem influenciar a transmissão da Covid-19, incluindo a diferença de idade e sexo no risco de infeção. Para além disso, também as intervenções não farmacêuticas intensivas (NPIs, na sigla inglesa), isto é, medidas de saúde pública, como é o caso do isolamento e o distanciamento social, destinadas a reduzir a taxa de contacto na população.
Mas de que forma varia, então, o intervalo serial de infeção? O seu aumento ou diminuição está relacionado com o período de incubação e com o perfil infeccioso. O período de incubação diz respeito ao tempo que decorre entre o momento em que uma pessoa é infetada e o aparecimento dos primeiros sintomas. Já o perfil infeccioso pode variar devido ao comportamento humano, através da aplicação de medidas de saúde pública que podem alterar o tempo dos momentos de infeção. Exemplificando, intervenções como o isolamento de casos confirmados e suspeitos, ou a suspensão de viagens para dentro e fora das cidades, foram implementadas em diferentes localidades chinesas. A adoção destas medidas permite, então, estudar as mudanças temporais na distribuição do intervalo serial e a sua relação com os NPIs.
O estudo consistiu na análise de 677 pares de transmissão com pacientes infetados que desenvolveram sintomas de 9 de janeiro a 13 de fevereiro, na China Continental. Cerca de 339 infetantes desenvolveram sintomas entre 23 e 29 de janeiro de 2020 e, por isso, esta semana foi definida como a do pico. A semana anterior foi definida como a do pré-pico (9 a 22 de janeiro de 2020), e os 15 dias seguintes foram definidos como o período pós-pico (30 de janeiro a 13 de fevereiro de 2020). Através do cálculo do intervalo serial, os cientistas conseguiram obter o número de dias entre as datas de início dos sintomas do infetante e do infetado. Concluíram, assim, que durante cada período observado, os intervalos seriais foram diminuindo ao longo do tempo. A análise dos 677 pares de transmissão revelou que a distribuição do intervalo serial teve uma média de 5,1 dias.
Os cientistas concluíram, ainda, que os intervalos seriais estão associados às medidas de isolamento, sendo que eles diminuem com base na rapidez com que os infetantes são isolados. Observaram, também, que o intervalo serial do Covid-19 na China Continental diminuiu substancialmente de 7,8 para 2,6 dias ao longo de 36 dias entre 9 de janeiro e 13 de fevereiro de 2020. Esta redução foi impulsionada por várias intervenções não farmacêuticas, particularmente pelo isolamento tardio de casos positivos.
Os peritos alertam para o facto de que não se deve generalizar as estimativas do intervalo serial para outros locais e para outros períodos no mesmo local, uma vez que os resultados dependem de variáveis que não são as mesmas nos diversos locais de expansão do vírus.