A hidroxicloroquina, medicamento para tratar doenças auto imunes como a artrite reumatóide e lúpus, tem estado nas bocas do mundo quase desde o início da pandemia e, entretanto, ganhou nova notoriedade desde que Donald Trump, no seu estilo característico, anunciou que estava a tomá-la de forma profilática indo contra todos os conselhos científicos.
Este medicamento, inicialmente muito usado na prevenção e tratamento da malária, mas que, entretanto “praticamente deixou de ser usado para esse fim, porque há grande resistência dos agentes da malária a este fármaco e já existem outros mais recentes”, explica Augusto Machado da Costa, especialista em Medicina Interna, já foi administrada em doentes graves com Covid-19, mas apenas fazendo parte de protocolos de investigação. “Teoricamente a hidroxicloroquina tem mecanismos de ação que reduzem a transmissão deste vírus no corpo, mas é apenas teoria”, diz o especialista. “Não existem”, continua, estudos “comparativos entre pessoas que tenham tomado o fármaco e outras não”.
A sua utilização, em Portugal, está autorizada em alguns casos graves de Covid-19, depois de analisada a capacidade respiratória do doente, segundo as normas da Direção Geral de Saúde, mas “permanece por esclarecer se se traduz de facto em eficácia”, refere o documento das autoridades. Que acrescenta, também, “ ainda não há resultados suficientes para chegar a conclusões definitivas. Os resultados entretanto obtidos indicam que a cloroquina reduz a febre, melhora os achados imagiológicos do pulmão e atrasa a progressão da doença. No entanto não há confirmação robusta destes resultados”.
Além disso, o medicamento tem efeitos secundários que não podem ser postos de lado quando, ainda por cima, como no caso do presidente dos EUA, se comete o “erro”, de acordo com Augusto Machado da Costa, de o tomar de forma profilática. Para além de que “não devia andar a publicitar fármacos na praça pública”.
Os efeitos a nível gastrointestinal, como náuseas, diarreia, anorexia, dores abdominais e vómitos, a sua “toxicidade hepática e cardíaca, e os problemas oculares” aconselham muita prudência, refere o médico. “Estamos habituados a receitar este medicamento a doentes reumáticos para tratamentos a longo prazo, porque sabemos que os efeitos positivos na doença se sobrepõem aos negativos”, nota.
Na bula também são referidos efeitos pouco frequentes como vertigens ou alucinações.