De forma total ou parcial, 46 países já encerraram as suas escolas na última semana, segundo dados da Unesco, que procura agora formas de ajudar na implementação e reforço de sistemas de ensino à distância.
O distanciamento social é, a par da lavagem frequente das mãos, a melhor arma para combater esta pandemia, e os menores parecem ter um papel especial na transmissão do vírus, mesmo sem apresentarem sintomas, como estão a demonstrar estudos realizados com crianças em Wuhan, na China, onde o Covid-19 teve o seu foco inicial. Os alunos, sobretudo nas idades mais precoces, têm muito contacto físico, contaminando rapidamente uma população alargada, pois da escola regressam todos os dias a casa, e os seus pais prosseguem depois para os transportes públicos, trabalhos, supermercados, etc.
Encerrar as escolas antes que exista um caso de infeção é uma das intervenções não farmacêuticas mais poderosas que podemos implantar
Nicholas Christakis, Universidade de Yale
Numa entrevista à revista Science, o investigador Nicholas Christakis, da Universidade de Yale, considerou que “o fecho proativo de escolas – encerrando-as antes que exista um caso – demonstra ser uma das intervenções não farmacêuticas mais poderosas que podemos implantar. Não se trata apenas de manter as crianças seguras, mas de manter toda a comunidade segura”.
Quando é detetado uma infecção na comunidade, diz, “é como um canário numa mina de carvão”. O mais provável “é já existirem dezenas ou centenas de outros casos”. É apenas a ponta de um icebergue, explica, pelo que fechar só uma turma ou uma escola depois da confirmação de casos positivos pode ajudar a travar a progressão na comunidade mas não de forma tão poderosa como quando o fecho é proativo.
Os estudos existentes analisaram sobretudo fechos reativos. Um deles, publicado na revista Nature, usando modelos matemáticos para estudar a evolução de uma pandemia de gripe, demonstrou que o encerramento de uma escola reduz a taxa de infecção cumulativa em cerca de 25% e atrasa o pico da epidemia [nessa região] em cerca de 2 semanas. “Quando adiamos o pico, normalmente também reduzimos o impacto da epidemia e os casos surgem de forma mais espaçada. Isso tem valor. Isso significa que a incidência em determinados dias vai ser menor e que não sobrecarregaremos tanto o sistema de saúde”, explica Nicholas Christakis.
“Fechar, fechar, fechar” é o que defendem cada vez mais especialistas em saúde pública, um pouco por todo o mundo, como explica também este artigo publicado na revista Atlantic. O Covid-19 tem uma propagação extremamente rápida e, ao contrário do que alguns chegaram a anunciar, não é menos perigoso que o influenza. Com os casos até hoje conhecidos, é pelo menos 10 vezes mais mortal que o vírus da gripe.
Mas “fechar tudo” tem implicações políticas, sociais e económicas profundas. Quem pagará, por exemplo, os dias que os pais tiverem de ficar em casa com os filhos? E em Portugal, se as escolas anteciparem as férias da Páscoa, serão duas semanas de pausa suficientes para travar a progressão do vírus? Eis outra questão a que ninguém sabe ainda responder, mas provavelmente não.
Na China as escolas fecharam durante 6 semanas, no Japão durante 4 semanas. Em Itália estão a prever 3 semanas de fecho, tal como na Dinamarca. Em Madrid todas as escolas encerraram também até ao início de abril.
A ordem de regresso à escola só poderá acontecer se os epidemiologistas verificarem que o pico da doença já foi ultrapassado. E como é que o Covid-19 irá evoluir em cada comunidade, em cada país, só o tempo dirá.