Uma técnica inovadora no campo da fertilidade permitiu que, pela primeira vez na história, uma mulher engravidasse após os tratamentos de quimioterapia a terem deixado infértil. O caso aconteceu em França e os especialistas acreditam que este episódio pode abrir uma porta de esperança para as mulheres com diagnóstico de cancro – sempre que as terapias hormonais de estimulação ovárica sejam desaconselhadas.
“Ovos amadurecidos em laboratório são de qualidade inferior quando comparados com os que se obtêm por estimulação dos ovários”, referiu Michael Grynberg, chefe de medicina reprodutiva e preservação da fertilidade do hospital universitário Antonie Béclère. Mesmo assim, o médico acredita que esta técnica é apesar de tudo bastante viável: “ O nosso sucesso com o Jules mostra que esta técnica deve ser considerada uma opção viável para a preservação da fertilidade feminina, idealmente combinada com a criopreservação do tecido ovárico”.
O processo chama-se maturação “in vitro” (IVM na sigla inglesa) e consiste na recolha de óvulos imaturos que são congelados rapidamente em azoto líquido para impedir a formação de cristais de gelo, evitando que as células se danifiquem. No caso desta mulher francesa de 34 anos, os óvulos imaturados foram recolhidos antes dos tratamentos de quimioterapia terem começado e foram implantados no útero da paciente ao fim de cinco anos de luta contra um cancro da mama.
Até agora, já foram registados alguns nascimentos a partir da mesma técnica, embora os óvulos tenham sido fertilizados e transferidos imediatamente para as pacientes sem passar pelo processo de vitrificação, nome dado à congelação dos óvulos. Por isso, esta é a primeira vez que a técnica teve sucesso em doentes com cancro. Além disso, os médicos adiantaram que o método utilizado permite também reduzir o risco de reincidência do cancro – isso pode acontecer em tipos específicos de cancro após ser transplantado de volta tecido ovárico.
“Ficamos muito felizes por a paciente ter engravidado sem nenhuma dificuldade e o bebé ser saudável”, disse Grynberg. E acrescentou: “Este sucesso representa um avanço no campo da preservação da fertilidade”.