O Instituto de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID, na sigla inglesa) mandou interromper esta semana, na África do Sul, os testes de uma vacina desenvolvida contra a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) que decorriam no país desde 2016, depois de 129 voluntários terem ficado infetados.
O estudo HVTN 702, também chamado de Uhambo, envolveu 5.407 voluntários não infetados, selecionados aleatoriamente entre mais de 14 regiões diferentes no país. Os participantes eram homens e mulheres, sexualmente ativos, entre os 18 e 35 anos, aos quais foram administradas, durante cerca de 18 meses, seis doses da vacina e injeções noutros casos (para medir possíveis efeitos de placebo) .
No entanto, um ano e meio após o período de vacinação experimental foram identificadas 129 infeções por VIH entre aqueles que receberam a vacina e mais 123 infetados dos que haviam recebido as injeções. Face ao fracasso destes resultados, o conselho de monitorização de dados e segurança do NIAID, entidade responsável pelo financiamento do projeto, ordenou a suspensão imediata dos testes.
“Uma vacina contra o VIH é essencial para acabar com a pandemia global, e esperávamos que este tratamento funcionasse. Lamentavelmente, não”, disse em comunicado Anthony Fauci, diretor do NIAID. E rematou: “A pesquisa continua por outras abordagens para uma vacina segura e eficaz contra o VIH, que ainda acredito ser possível”
A Sociedade Internacional de SIDA (ISA), que representa os profissionais de saúde e investigadores que trabalham com o vírus já veio manifestar a sua profunda deceção com o resultado dos últimos testes, para os quais havia grandes esperanças.
No entanto, Roger Tatoud, vice-diretor da IAS e responsável pelos programas de prevenção do VIH diz que apesar dos resultados desanimadores, este estudo representa um passo em frente no campo da investigação da doença: “Um estudo bem conduzido, mesmo que a eficácia não seja observada, desempenha sempre um papel crítico na informação do desenvolvimento da vacina contra o VIH”.
Essa opinião é corroborada também pela presidente do grupo consultivo para empresas de vacinas, Linda-Gail Bekker:“Embora esse seja um retrocesso significativo para o campo, precisamos de continuar a busca por uma vacina preventiva. As taxas de infeção pelo VIH, que continuam inabaláveis nesta região, devem estimular maior urgência, atenção global e investimentos na procura ”.
A África do Sul tem uma das mais altas taxas de infeção por VIH de todo o mundo. Segundo o programa das Nações Unidas para a prevenção da doença, UNAIDS, mais de 20% da população entre os 15 e 49 anos é seropositiva Além disso, as últimas estatísticas anuais registam mais de 240 mil pessoas infetadas pelo vírus em 2018.
Para além do HVTN 702, neste momento estão a ser desenvolvidos dois outros testes de vacinas contra o VIH: um na África subsariana, outro em vários países da Europa e América.
Em Portugal, o relatório de 2019 da Direção Geral da Saúde deu conta de quase mil novos casos de SIDA em 2018, num total cumulativo de 59 913 pessoas infetadas. No contexto europeu, Portugal apresenta das mais elevadas taxas de novos casos de infeções por VIH e de incidência de SIDA, embora registe uma tendência decrescente.