O sexo pode interferir no sono?
Durante a relação sexual, é libertada oxitocina (hormona do amor) e diminuem os níveis de cortisol (a hormona do stresse). Após um orgasmo, é libertada prolactina, a hormona responsável pela sensação de relaxamento e sonolência. “Estas alterações hormonais favorecem a indução do sono”, garante Susana Varela, médica pneumologista e membro da Comissão de Trabalho para a Patologia Respiratória do Sono da Sociedade Portuguesa de Pneumologia. Nas mulheres, durante o ato sexual, a libertação de estrogénio (hormona feminina) promove o sono REM (fases mais profundas do sono) e a libertação de endorfinas promove uma sensação de bem-estar e relaxamento.
A intimidade resultante da relação sexual influencia o sono?
Depende da relação de intimidade, esclarece Cátia Oliveira, psicóloga e investigadora na área de sexologia na CUF Porto. “O ‘estar apaixonado’, habitualmente interpretado como positivo e associado ao aumento da intensidade de atividade sexual, relaciona-se frequentemente com insónias, falta de apetite, ansiedade e presença de desejo sexual elevado. Já uma relação amorosa mais estável, que promova conforto emocional, segurança e vinculação, parece estar mais associada ao aumento dos níveis de oxitocina e à diminuição de serotonina (hormona ligada à sensação de bem-estar), o que influencia de forma positiva o sono.”
A forma como dormimos influencia a vida sexual?
Na opinião da médica Susana Varela, a falta de sono pode influenciar a libido: “A privação de sono está associada a uma diminuição dos níveis de testosterona – hormona com um papel fundamental na função sexual do homem – e, por vezes, a uma redução da libido.” O estudo The Impact of Sleep on Female Sexual Response and Behavior: A Pilot Study, publicado no The Journal of Sexual Medicine em 2015, demonstrou que a própria duração do sono se relaciona com o desejo sexual. Mais: nas participantes deste estudo, uma hora de sono extra aumentava em 14% as probabilidades de uma relação sexual no dia seguinte.
As doenças do sono prejudicam o sexo?
Uma das doenças com uma maior ligação à disfunção sexual é a síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS): a associação à disfunção erétil nos homens foi descrita já em 1981 pelo investigador Christian Guilleminault. Além disso, algumas doenças associadas a SAOS, como hipertensão, diabetes, obesidade, dislipidemia e doença cardiovascular, são fatores de risco para a disfunção sexual. Também nas mulheres têm sido encontradas associações. “A hipersonolência diurna (sonolência excessiva), o ressonar e as pausas na respiração (apneias) presenciadas pelo parceiro justificam muitas vezes que os casais optem por dormir em quartos separados, promovendo o afastamento conjugal”, explica a médica pneumologista. Por outro lado, a irritabilidade e a fadiga resultantes de um sono não reparador – consequência de insónias, por exemplo – levam muitas vezes ao isolamento social e à instabilidade emocional, causando conflitos que podem prejudicar o sexo.
Estudo liga privação a desejo
A falta de sono continuado pode não interferir do mesmo modo em todas as pessoas. Segundo um estudo sobre a qualidade do sono e o desejo sexual, feito em 2017 por investigadores do ISPA – Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida, nos homens com níveis altos de testosterona e nas mulheres com um ciclo menstrual natural, pode até facilitar a excitação sexual não estimulada. “Foi verificado que a falta de sono pode influenciar a excitação, aumentando o desejo sexual. A questão depois é: durante quanto tempo isto pode ser mantido?” Foram analisados 275 portugueses que relataram o que sucedeu no mês anterior ao estudo, sendo certo que, se houve registo de aumento da excitação sexual, a privação de sono não gerou maior frequência das relações sexuais.