As meninas que são expostas, ainda durante a gestação, a químicos como os encontrados em pastas de dentes, produtos de maquilhagem, sabonetes, champôs e outros produtos de higiene e beleza podem atingir a puberdade mais cedo.
Estudos em animais já tinham demonstrado este efeito, em animais, de vários químicos, como os ftalatos, encontrados normalmente em produtos perfumados, os parabenos, usados como conservantes em cosméticos, ou os fenóis, que podem estar presentes em produtos tão variados como sabonete, pasta de dentes, batons ou cremes. Os especialistas acreditam que estes químicos interferem com as hormonas sexuais e daí, com o timing da puberdade, mas os seus efeitos em humanos ainda não são muito claros.
Para este novo estudo, publicado no Human Reproduction, investigadores norte-americanos acompanharam 338 crianças, do nascimento até à adolescência. Ou melhor, desde a gestação, já que as mães submeteram-se a testes de urina e responderam a questionários sobre a potencial exposição a químicos. Quando as crianças chegavam aos 9 anos de vida, a sua urina era igualmente testada e, a partir daí e até aos 13 anos, eram avaliadas de nove em nove meses para a deteção de sinais de puberdade.
Mais de 90% das amostras de urina das crianças revelaram a presença de todos os químicos potencialmente indutores de alterações hormonais, à exceção do triclosan, que foi encontrado em 73% das grávidas e 99% dos filhos.
Por cada duplicação na concentração de um indicador de ftalatos na urina das mães, as filhas viam antecipado em 1,3 meses o desenvolvimento de pelos púbicos – metade das meninas começaram a tê-los com 9,2 anos. Já com a duplicação da concentração do antissético triclosan, frequente em elixires e pasta de dentes, as raparigas começavam a menstruar um mês mais cedo – metade tinha a primeira menstruação aos 10,3 anos.
No caso dos rapazes, o desenvolvimento da puberdade não mostrou qualquer relação com a exposição pré-natal a estes químicos.
“Tem havido uma preocupação significativa sobre o porquê de as raparigas estarem a entrar na puberdade mais cedo e os químicos que afetam as hormonas como os que se encontram nos produtos de higiene pessoal que estudámos têm sido apontados como uma possível razão”, afirma Kim Harley, diretora associada do Centro para a Investigação Ambiental e Saúde Infantil da Universidade da Califórnia e principal autora.
Apesar das associações encontradas entre estes químicos e a puberdade precoce, que aumenta o risco de doenças mental e comportamentos de risco na adolescência e de cancros, nos ovários e na mama, mais tarde, a investigadora vê nas conclusões do estudo “boas notícias”: “Se as mulheres quiserem reduzir a sua exposição a estes químicos, há medidas que podem tomar”, como a consulta dos rótulos dos produtos.
Os autores fazem questão ainda de sublinhar que a investigação não foi conduzida de forma a poder provar que a exposição pré-natal a estes químicos é a responsável pela puberdade precoce e que, além disso, tem uma limitação: a ausência de dados que mostrem se as raparigas na puberdade têm, também, maior probabilidade de usarem elas próprias os produtos que os contêm e sofrerem, assim, uma exposição direta.