Um estudo publicado este ano na revista académica Archives of Sexual Behavior mostrou que os americanos tinham menos 9 relações sexuais por ano no início na primeira década deste século do que no final dos anos 90 – de 62 relações sexuais por ano, passaram a 53. Mas o “fenómeno” não é exclusivo dos Estados Unidos: Outros estudos mostraram que, em 2013, os britânicos entre os 16 e os 44 anos de idade faziam sexo cerca de 5 vezes por mês, quando, três anos antes, a média situava-se ligeiramente acima das 6. Também a Austrália registou, em 2014, registou um decréscimo de contactos íntimos em relações heterossexuais, quando comparados os valores de 2004. De 1,8 relações sexuais semanais, passaram a registar-se cerca de 1,4.
Resumindo, fazemos menos sexo do que há umas décadas e os culpados são vários.
1 – Estilo de vida do século XXI
Insegurança. Esta podia ser a palavra do ano. Ou dos últimos anos. Insegurança no trabalho, na vida amorosa, em relação ao dinheiro. E este cenário pouco estável, fiel aliado da sociedade ocidental, não vem sozinho: A ansiedade tem vindo a crescer como um dos maiores transtornos psicológicos da atualidade. Uma pessoa ansiosa terá, segundo a lógica, uma menor auto-estima do que uma pessoa mais descontraída. E isso afeta o que acontece dentro de quatro paredes. Sobretudo no que toca aos jovens, os ditos millennials (nascidos entre 1982 e 1999), que vieram ao mundo numa época em que reina o frenetismo, o stress, a competição. Os hábitos pouco saudáveis como a fast food, o álcool ou o tabagismo poderão ser usados como “escape” ao mundo real e, consequentemente, afetar a vida sexual.
Na Geração X (1960-1984) ou mesmo na altura dos Baby Boomers (1946-1965), registou-se uma maior regularidade das relações sexuais do que na atualidade. E os jovens, cada vez mais ansiosos, não têm recorrido à vida íntima para se livrar das preocupações. Pelo menos, não com muita frequência.
2 – O online não ajuda (nem a pornografia)
As redes sociais são frequentemente consideradas um dos males do século XXI. Porque são responsáveis por convívios “reais” mais pobres; porque transmitem a falsa ideia de que a vida perfeita existe (o que, por sua vez, aumenta a ansiedade de todos os que são mais suscetíveis a comparar-se com os outros); porque têm um poder extremamente aditivo e conduzem ao isolamento. E isto aplica-se à vida íntima. Sendo os contactos reais deixados para segundo plano, a vida sexual do casal também sofre. Ou então é interrompida pelo som de uma notificação do Facebook.
E esta questão pode ser aplicada à pornografia. Também ela é veículo de cenários ideais com poucas semelhanças à realidade. Uma maior atenção àquilo que a pornografia transmite, poderá significar um menor desejo por aquilo que é real, pelo verdadeiro parceiro (ou parceira).
Por outro lado, aplicações como o Tinder ou Grindr, propõem-se transformar desconhecidos em conhecidos e,muitas vezes, em mais do que isso. Tal como estas, outras aplicações têm aumentado o número de encontros sexuais, sobretudo casuais.
3 – Mais workaholics, menos tempo para a intimidade
Trabalho, trabalho… e trabalho. 40 horas de trabalho por semana. Ou mais. Sabe-se que muitos fatores podem influenciar a a qualidade (e regularidade) da vida sexual. E os problemas no trabalho estão entre eles. Quer seja pelas chamadas “relações tóxicas”, quer seja pelo cansaço ou stress após várias horas a trabalhar, a intimidade pode sair prejudicada desta equação.
Mas se o nosso trabalho nos deixa realizados, não deveríamos sentir-nos, no geral, mais satisfeitos e dispostos a ter relações sexuais com frequência? A resposta é: sim. O mesmo estudo americano que revelou a menor regularidade sexual no início da década de 2010, descobriu também, pelo contrário, uma relação sólida entre uma vida laboral intensa e uma vida sexual bastante ativa. O problema está na qualidade dessas relações, que poderá ser inferior. Apesar de tudo, não ter trabalho revelou-se um fator muito mais negativo no que toca à saúde mental de cada pessoa. E, consequentemente, à vida sexual.