Todos gostaríamos, mas nem sempre é fácil manter um sorriso bonito e saudável. Só é possível mantendo os cuidados de higiene oral recomendados: lavar os dentes duas vezes por dia e consultar um dentista de seis em seis meses. Mas se um sorriso bonito e saudável é essencial para a autoestima e a confiança de todos nós, o seu impacto na saúde em geral não é de desvalorizar.
Segundo o II Barómetro da Saúde Oral, 34,3% dos portugueses afirmam nunca visitar o seu dentista ou só o fazer em casos urgentes. Um número assustador, tendo em conta que existem estudos que provam que uma deficiente saúde oral pode dar início a outras doenças.
A nossa boca é a porta de entrada para o resto do nosso corpo. São várias as doenças que podem ser identificadas através do estado da nossa saúde oral. Por exemplo, as úlceras são uma manifestação da Doença Celíaca e da Doença de Crohn, lesões bocais são dos primeiros sinais do vírus da sida, gengivas esbranquiçadas e sangrentas podem significar anemia, perda de massa óssea no maxilar inferior é um dos primeiros sintomas de osteoporose, e mudanças na aparência dos dentes indicam anorexia e bulimia.
Por isso, manter uma boa higiene oral é essencial para ser possível detetar outros problemas. Mas uma boa saúde oral não significa apenas ter dentes brancos e bonitos e um hálito fresco.
A boca é um lugar propício à acumulação de bactérias, que pode ser controlada com uma boa higiene oral, “caso não cumpra os cuidados recomendados, não vai conseguir fazer uma correta eliminação dos resíduos alimentares que se vão acumulando nos dentes e nas gengivas”, explica o dentista Hugo Madeira. Se não o fizer, não são apenas os seus dentes e gengivas que irão sofrer: há estudos que sugerem que a saúde oral afeta a saúde em geral.
DOENÇAS CARDÍACAS
“A periodontite não compromete apenas a saúde oral. Quando existe uma inflamação periodontal na gengiva, as bactérias conseguem chegar à corrente sanguínea e causar danos no sistema imunitário. A ‘doença das gengivas’ também pode estar associada a doenças cardiovasculares.
Uma explicação para essa associação está no facto das proteínas inflamatórias e das bactérias presentes no tecido periodontal conseguirem penetrar na corrente sanguínea, causando diversos efeitos no sistema cardiovascular”, continua o dentista.
Em 2014, investigadores da University of Florida e da University of British Columbia, apresentaram um estudo que prova a relação entre doenças cardíacas e a periodontite.
Os investigadores descobriram que, após seis meses, os ratos infetados com quatro tipos diferentes de bactérias conhecidas por causarem gengivite e periodontite experienciaram um aumento de inflamação e dos níveis de colesterol (ambos ligados a doenças cardiovasculares). Além disso, as bactérias alastraram-se das suas bocas até ao coração, rins, pulmões e fígado.
GRAVIDEZ
Um grupo de cientistas analisou todos os resultados de pesquisas feitas acerca de possíveis ligações entre problemas de gravidez e escassez de cuidados orais e descobriu uma relação entre a periodontite e três possíveis problemas: ter um bebé com pouco peso, ter um parto prematuro, ou sofrer de pré-eclampsia durante a gravidez. Além disso, foram encontrados vestígios das bactérias presentes na boca da mãe no cordão umbilical. No entanto, ainda não é possível provar uma “causa e efeito” entre a periodontite e os problemas na gravidez.
Outro estudo de 2011 revelou que as mulheres com problemas nas gengivas têm mais dificuldades em engravidar do que as mulheres com uma boa saúde oral. Em média, uma mulher demora 5 meses a conseguir engravidar, enquanto uma mulher afetada com a doença demora 7 meses.
DIABETES
“Investigações recentes sugerem também que a periodontite está geralmente associada à diabetes e pode ser considerada como uma das complicações clínicas da doença. Os estudos indicam que os portadores de diabetes têm um nível mais elevado de periodontite do que aqueles que não tinham a doença das gengivas”, refere o dentista Hugo Madeira. Isto acontece porque as pessoas diabéticas estão mais suscetíveis às infeções bacterianas, e têm uma capacidade menor em combater as bactérias que invadem o tecido gengival.
Não só as pessoas com diabetes estão mais suscetíveis a sofrer de gengivite ou periodontite, mas também estas doenças orais podem afetar o controlo glicémico no sangue e contribuir para a progressão da doença.
ARTRITE REUMATOIDE
Um estudo de 2012 sugeriu que as bactérias orais podem contribuir para alguns casos de osteoartrite nos joelhos e artrite reumatoide. Os investigadores da Case Western Reserve University analisaram o líquido sinovial, que se encontra nas cavidades articulares e nos tendões, de 36 pessoas com osteoartrite nos joelhos. Cinco dos pacientes tinham bactérias das gengivas nos líquidos sinoviais. Para dois dos pacientes, a bactéria encontrada no líquido era geneticamente compatível com as bactérias encontradas na boca. Segundo os investigadores, tudo indica que esta bactéria pode agravar a artrite. Como o estudo foi pequeno, aguarda-se uma pesquisa mais profunda para provar definitivamente que as bactérias da gengiva podem causar ou agravar a artrite. Pelo sim pelo não, mais vale prevenir do que remediar