A história não é nova. Duas pessoas conhecem-se, apaixonam-se e depois passa. Em vez de cada um seguir o seu caminho, por vezes insistem em continuar juntos, mas infelizes, por qualquer razão que desconhecem. Pelo menos desconheciam até agora.
O estudo intitulado “Is there a ‘sunk cost’ effect in committed relationships?”, que traduzido à letra pergunta se “existirá um efeito do ‘custo investido’ em relações íntimas?”, é o resultado da tese de mestrado da aluna Sara Rego, orientada pelas investigadoras da Escola de Psicologia da Universidade do Minho, Paula Magalhães e Joana Arantes.
A publicação recente na revista Current Psychology analisa o conceito económico “sunk cost” no domínio das relações amorosas e comprometidas. Afinal o que é o efeito “sunk cost”? Imagine que tem uma expectativa muito grande sobre um determinado filme. Compra o bilhete e vai ao cinema, mas meia hora depois percebe que afinal o filme é uma desilusão e não tem dúvidas de que gastaria melhor o seu tempo numa outra atividade, visto que o dinheiro gasto no bilhete já não o pode recuperar.
“No fundo, o efeito ‘sunk cost’ acontece quando somos influenciados pelos investimentos passados na decisão presente”, explica Paula Magalhães, 32 anos. E esse investimento tanto pode ser dinheiro (o mais comum), esforço ou tempo. É tomar uma decisão no presente em função do que já investimos.
“O efeito de ‘sunk cost’ é irracional, uma vez que apenas os custos e os benefícios futuros deveriam influenciar a nossa tomada de decisão”, explica Joana Arantes, 34 anos. O que as autoras do estudo quiseram aprofundar é se esse efeito se aplica no domínio da intimidade.
Para tal usaram a metodologia mais clássica (através de cenários hipotéticos) nas suas duas experiências. Primeiro recrutaram 951 pessoas online (Facebook, e-mails), na sua maioria entre os 18 e os 25 anos e perguntaram-lhes o que fariam se estivessem num relacionamento infeliz, tendo sido manipuladas três variáveis: o tempo (10 anos ou um ano), o dinheiro (a compra de uma casa), o esforço (para salvar a relação).
Os principais resultados concluíram que quando há investimento de dinheiro (35,57%) e de esforço (36,86%) na relação as pessoas têm maior tendência para manter a situação, do que quem só tinha investido tempo (25,97%).
“É uma diferença estatísticamente significativa, o que nos levou à segunda experiência”, conta Paula Magalhães. Aos outros 275 participantes foi-lhes colocada a mesma questão, mas apenas focados no tempo investido, onde não encontraram efeito no estudo anterior. Quanto tempo estariam dispostos a investir no relacionamento, em dias, semanas, meses ou anos?
“Resolvemos tornar a situação de escolha mais verosímil, em vez de ser dicotómica, manter ou sair da relação”, acrescenta a investigadora. Encontraram o efeito do tempo investido. Quando confrontadas com um relacionamento duradouro, de dez anos por exemplo, as pessoas estavam dispostas a investir ainda mais tempo, do que as que tinham um caso recente de um ano apenas.
A investigadora Paula Magalhães já tinha estudado o efeito “sunk cost” em seres não humanos na sua tese de doutoramento na Nova Zelândia e a investigadora Joana Arantes tem focado a sua investigação nos últimos anos ao estudo dos relacionamentos amorosos. Em conjunto com outros investigadores da Escola de Psicologia estão a preparar outro estudo sobre este mesmo efeito mas no domínio das relações abusivas. Afinal, quanto é que cada um de nós está disponível a investir ou a abdicar para ser feliz?