Os vencedores da segunda edição dos Prémios Verdes VISÃO + Grupo Águas de Portugal foram conhecidos esta segunda-feira, 5 de junho, Dia Mundial do Ambiente. A cerimónia, na Fábrica da Água de Alcântara, Lisboa, apresentada por Marta Atalaya, arrancou com Mafalda Anjos, diretora da VISÃO, a sublinhar o papel que a VISÃO tem desempenhado na divulgação dos temas de ambiente, sobretudo desde a primeira edição especial Verde, em 2007.
Seguiu-se José Furtado, presidente do Conselho de Administração do grupo Águas de Portugal, que realçou a importância de distinguir os melhores desempenhos no ambiente, sendo o tema “palco das maiores transformações na economia e na sociedade”. O gestor lembrou que a escassez de água ocupa a primeira ordem de preocupação, dados os cenários de alterações climáticas em cima da mesa, aproveitando para defender que enfrentar este desafio não cabe apenas às entidades gestoras. “O esforço em matéria da questão da escassez deve centrar-se no lado da procura. Mais ou menos infraestrutura, hoje, não oferece grandes desafios. O problema está mesmo no financiamento, na mente das pessoas, nos decisores económicos, nas opções que se tomam.”
O evento contou com uma apresentação de Tiago Domingos, professor do primeiro curso de Crise Climática em Portugal, no Instituto Superior Técnico, que questionou se é possível reduzir o consumo energético e continuar a crescer.
A cerimónia foi encerrada por Hugo Pires, secretário de Estado do Ambiente. O governante defendeu “um novo paradigma independente de combustíveis fósseis”, para tornar a Europa mais resiliente – uma resiliência que a pandemia e a invasão russa da Ucrânia tornaram mais premente, disse. “O sistema económico não pode estar assente na linearidade, mas sim na circularidade.”
Conheça aqui as personalidades e os projetos que venceram os oito prémios e 15 menções honrosas atribuídas, em 10 categorias distintas (entre mais de 170 candidaturas recebidas), com destaque para a entrega do Prémio Personalidade a Jorge Paiva, uma das figuras mais importantes da botânica e ativismo ambiental do País, a três meses de completar 90 anos.
Veja a fotogaleria de cerimónia e conheça abaixo os projetos vencedores.
Lista dos projetos vencedores
Personalidade
PRÉMIO: Jorge Paiva
Uma das figuras maiores da botânica nacional, o professor Jorge Paiva tem-se destacado tanto no campo do ativismo ambiental como no científico. Nascido em 1933, licenciado em Ciências Biológicas e doutorado em Biologia, identificou e classificou várias espécies de plantas e participou em expedições científicas um pouco por todo o mundo, mas é a sua defesa intransigente, ao longo das últimas décadas, da nossa biodiversidade e floresta autóctone que o tornou conhecido e admirado fora da comunidade científica. É, sem sombra de dúvida, um grande Senhor do Ambiente em Portugal.
Investigação
PRÉMIO: Miguel Bastos Araújo (Além Risco)
Investigador com um currículo demasiado longo para este espaço ‒ diga-se só que foi o primeiro cientista da área do Ambiente a vencer o Prémio Pessoa ‒, Miguel Bastos Araújo ganha o Prémio Investigação como reconhecimento de toda uma longa carreira na área. Com o recente projeto Além Risco, que lançou, foram plantadas mais de 50 mil árvores em 14 municípios alentejanos para combater o efeito “ilha de calor”, reduzindo a temperatura nos centros urbanos. O investigador estima que tenham morrido, no Alentejo, mais de 6 mil pessoas, entre 1980 e 2015, devido à exposição ao calor, um problema que ameaça tornar-se cada vez mais sério, com o avançar das alterações climáticas.
MENÇÃO HONROSA: Verónica Ferreira
Enquanto muitos se ocupam, e bem, das grandes massas de água (oceanos, lagos, rios, glaciares e mantos de gelo), Verónica Ferreira foca-se nas pequenas: os efeitos das alterações ambientais nos ribeiros. Já com 12 estudos publicados nesta área, a investigadora tem dado bases de conhecimento fundamentais para proteger estes habitat fundamentais para uma miríade de espécies.
MENÇÃO HONROSA: José Alves (EcoFlyway)
Com mais de 80 artigos publicados em algumas das mais reputadas revistas científicas, o biólogo José Alves tem-se destacado sobretudo nos estudos sobre aves migradoras, com ênfase nas ameaças que sobre elas pendem com os efeitos das alterações climáticas e destruição de habitat. Tem-se também batido por estudos mais aprofundados sobre o impacto do futuro aeroporto na avifauna.
Inspiração
PRÉMIO: André Silva (HortasLx by Purisimpl)
Em cada varanda, em cada parapeito, em cada canto, uma horta. André Silva, com o seu projeto HortasLx by Purisimpl, quer inspirar toda a gente a cultivar parte da sua própria alimentação, de uma forma que respeite a natureza e o ambiente. Com mais de 20 mil seguidores no Instagram, o influencer verde já ajudou, nos últimos três anos, 10 instituições e mais de 20 empresas a criar as suas próprias hortas, através dos princípios da agricultura biológica e da permacultura.
MENÇÃO HONROSA: Joana Schenker (Schenker School Tour)
Nos últimos quatro anos, a campeã do mundo de bodyboard já deu mais de 120 palestras por todo o País, ao abrigo do projeto Schenker School Tour (apoiado pela Fundação Oceano Azul e pelo Oceanário de Lisboa), com o objetivo de sensibilizar crianças e jovens para a necessidade de protegerem os oceanos e terem um estilo de vida sustentável ‒ Joana Schenker pretende criar uma “geração azul”.
MENÇÃO HONROSA: Ana Milhazes (Ana, Go Slowly)
Fundadora do Movimento Lixo Zero Portugal, autora do blogue Ana, Go Slowly e do livro Vida Lixo Zero, Ana Milhazes fez do minimalismo um modo de vida. Um burnout causado pelas pressões de uma carreira convencional levou-a a recentrar as suas prioridades e a escolher uma vida mais de acordo com as suas paixões. Hoje, tem por missão inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo.
Ação
PRÉMIO: João Barroso, Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo)
Promovido pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo trabalha com os produtores de vinho, grandes e pequenos, para encontrar soluções mais sustentáveis para esta atividade agrícola, dos campos às adegas. Com a proteção da biodiversidade em mira, o projeto tem contribuído para reduzir significativamente os consumos de água e energia no setor e ainda aumentar a reciclagem de resíduos orgânicos, transformados em adubo. A redução de fitofármacos está também a ser conseguida, através da aposta em morcegos, ovelhas, gansos, galinhas e em sebes funcionais, para atrair predadores de pragas da vinha.
MENÇÃO HONROSA: Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável (Projeto Ativa “Climate action by European citizens delivers for development”)
A Zero é a representante portuguesa do “Climate action by European citizens delivers for development”, uma iniciativa que tenta mostrar às pessoas os impactos que as alterações têm e terão nas suas vidas e convencê-las de que a mudança é possível ‒ e que depende, em boa parte, das suas próprias ações. O projeto já chegou a mais de cinco mil jovens e criou parcerias com mais de 20 entidades.
MENÇÃO HONROSA: Cooperativa Fruta Feia
A Fruta Feia, que completa em novembro dez anos, faz da luta contra o desperdício alimentar o seu mantra. Comprando diretamente aos produtores frutos e hortícolas que seriam rejeitados pela grande distribuição pela sua aparência, a cooperativa sem fins lucrativos já conseguiu evitar que 4 600 toneladas de alimentos locais e de época (feios mas deliciosos e acessíveis) fossem parar ao lixo.
Água e Cidades Sustentáveis
PRÉMIO: Câmara Municipal de Lisboa (Parque Urbano Gonçalo Ribeiro Telles)
Retomar o caminho da água: é esse o princípio por trás do desenho do novo Parque Urbano Gonçalo Ribeiro Telles. Através da renaturalização de seis hectares, na zona da Praça de Espanha, pretende-se regularizar picos de cheias, controlar inundações, arrefecer a cidade e promover a biodiversidade, segundo os preceitos defendidos pelo arquiteto Ribeiro Telles. O Parque criou um espaço ecológico de continuidade, permitindo a ligação do Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian ao Corredor Verde de Monsanto, acompanhando o percurso natural das ribeiras.
Energias Verdes
PRÉMIO: C-Coop, Cooperativa para o Desenvolvimento Sustentável da Ilha da Culatra (Culatra 2030, Comunidade Energética Sustentável)
Criar uma comunidade de energia renovável na Vila de Pescadores da Culatra, dentro do Parque Natural da Ria Formosa ‒ era essa a proposta, que foi aprovada em janeiro deste ano e já conta com cinco instalações fotovoltaicas que fornecem 25% das necessidades energéticas da ilha, a que se junta uma unidade de armazenamento de eletricidade e um barco movido a energia solar. Mas a Culatra 2030 vai para lá da produção de eletricidade ‒ o projeto integra um modelo de gestão de resíduos e de água, além de criar novos mecanismos de responsabilidade social.
MENÇÃO HONROSA: Lisboa E-Nova, Agência de Energia e Ambiente de Lisboa (Solis, Plataforma Solar de Lisboa)
O Sol, quando nasce, é para todos? Sim, mas alguns são mais bafejados pelo sol do que outros. O Solis é um projeto que permite aos lisboetas acederem a mapas para perceberem o potencial de geração de energia de todas as coberturas da sua cidade, com estimativas de produção de eletricidade calculadas para cada “telhado”.
Arquitetura
MENÇÃO HONROSA: Castro Group SGPS (SPARK Matosinhos)
Telhados verdes para ajudar a escoar a água, depósitos de recolha de águas pluviais (que depois são usadas na rega dos jardins e nas descargas interiores), sistemas de irrigação eficientes nas áreas verdes, maximização da luz natural e sensores de monitorização do desempenho energético do edifício: estas são algumas características do edifício SPARK Matosinhos, que pretende ser um exemplo de construção sustentável.
Tecnologia Verde
PRÉMIO: Repair Café
Para quê deitar fora o que pode ser recuperado? O conceito foi importado dos Países Baixos, há sete anos que as iniciativas Repair Café Lisboa contribuem para a economia circular, reduzindo a exploração de recursos e a quantidade de resíduos. Ao longo de mais de 40 encontros, já foram reparados para cima de mil objetos (com uma taxa de sucesso de 70%), sobretudo máquinas de café, ventoinhas, aquecedores e candeeiros. A onda antidesperdício começa agora a chegar a outras cidades, com iniciativas Repair Café a nascer no Porto, em Sintra, Mértola, Beja e Ermesinde, sempre numa perspetiva comunitária.
MENÇÃO HONROSA: Thiago Correia Gomes (BioReboot)
A startup BioReboot tem vindo a desenvolver, em parceria com o ISOPlexis ‒ Centro de Agricultura Sustentável e Tecnologia Alimentar da Universidade da Madeira, um polímero feito a partir da transformação de resíduos agrícolas. Estes produtos alternativos ao plástico descartável prometem ajudar a aliviar o problema da poluição por plástico.
MENÇÃO HONROSA: Mónica Gonçalves (Alfarroba.Tex)
Apoiada numa experiência de 12 anos a trabalhar na área da investigação têxtil, Mónica Gonçalves desenvolveu um produto original e funcional, a partir de substrato de alfarroba, para substituir o couro, tanto o animal como o sintético. Além de ser 100% natural e biodegradável, o Alfarroba.Tex tem um consumo de água mínimo, uma das principais preocupações da sua criadora.
Conservação da Natureza
PRÉMIO: Ana Filipa Sobral (Manta Catalog Azores)
Um projeto científico e de conservação da bióloga marinha Ana Filipa Sobral, o Manta Catalog Azores, pretende aumentar o conhecimento das jamantas presentes nos Açores, de forma a permitir criar medidas de proteção das espécies. Aquela que é a primeira base de dados fotográfica da imponente jamanta-chilena foi crescendo, ao longo da última década, com os contributos dos mergulhadores que viajam, de todo o mundo, para captarem estes animais. Esta “ciência-cidadã” já permitiu, entre outras coisas, identificar três espécies de mantas na região, quando se julgava haver apenas duas.
MENÇÃO HONROSA: Município de Loures (RiosComVida)
Renaturalizar as linhas de água para recuperar ecossistemas e torná-los mais resilientes às alterações climáticas, criando corredores ecológicos e reservas de biodiversidade que, em simultâneo, melhoram a capacidade de drenagem das bacias hidrográficas ‒ é isto que o projeto RiosComVida tem vindo a fazer, e sempre numa lógica de envolvimento das populações locais. No ano passado, foram intervencionados 265 km2 de linhas de água.
MENÇÃO HONROSA: Associação Natureza Portugal/WWF (Golfinhos no Tejo)
Lançado a 8 de junho de 2021 (Dia Mundial dos Oceanos), a iniciativa Golfinhos no Tejo pretendia perceber as razões que levavam os golfinhos a aventurar-se pelo estuário adentro. O projeto resultou na criação do Observatório Golfinhos do Tejo e num relatório, publicado em outubro passado, com dados sobre a qualidade das águas, a biodiversidade e as pressões sobre os golfinhos, propondo ainda um conjunto de medidas de melhoramento ambiental do Tejo.
MENÇÃO HONROSA: Câmara Municipal de Cascais (Florestas Marinhas de Cascais)
Em parceria com a SeaForester e o Centro de Ciências do Mar (Universidade do Algarve), a Câmara de Cascais desenvolveu um projeto-piloto para restaurar as muito degradadas florestas marinhas do concelho. Além de serem repositórios de biodiversidade e de fornecerem oxigénio aos oceanos, as florestas marinhas são ainda importantes sumidouros de carbono, contribuindo para mitigar as alterações climáticas. Está prevista a restauração de 1 hectare até 2025.
MENÇÃO HONROSA: Palombar (Campanha de Resgate e Salvamento de “C. pygargus” no Nordeste Transmontano + Searas com Biodiversidade)
A águia-caçadeira tem sofrido uma queda acentuada em Portugal, tendo passado de 900 a 1 200 casais em 1995 para apenas 120 em 2021, recebendo o pouco invejável “selo” de “em perigo”. Este declínio deve-se sobretudo ao corte precoce das culturas de feno, que destrói ninhos com ovos e crias. Para tentar impedir a extinção da espécie em Portugal, a associação Palombar lançou uma campanha de identificação de ninhos e resgate de ovos e crias que passa também pela sensibilização dos agricultores.
Especial PALOP
MENÇÃO HONROSA: Kora Angola (ETAR da Centralidade de Luena)
A primeira Estação de Tratamento de Águas Residuais de Angola com leitos percoladores (de tratamento biológico), com meio de enchimento de última geração, serve 17 mil habitações, apresenta baixos consumos energéticos ao aproveitar o desnível do terreno e funciona sem recurso a reagentes.