A indústria da moda está debaixo de fogo. Uma nova investigação da Greenpeace revela que algumas das grandes marcas internacionais são responsáveis por parte da desflorestação da Amazónia.
Em causa está a sua ligação a produtores de couro, em particular à JBS, uma empresa brasileira de produtos de pele, e a maior exportadora deste setor no Brasil.
Entre as marcas com ligações à cadeia de abastecimento da JBS estão a Coach, LVMH, Prada, H&M, Zara, Adidas, Nike, New Balance, Teva, UGG e Fendi – todas elas têm ligações à JBS, e à indústria do couro, responsável por contribuir para a desflorestação na Amazónia.
Apesar de a JBS ter prometido recentemente atingir a marca de zero desflorestação até 2035, grupos e organizações ambientalistas dizem que esses esforços são insuficientes e que a produtora pode e deve fazer muito mais para travar a catástrofe da desflorestação.
“Em nome das suas margens de lucro, a JBS continua a sacrificar o clima, a biodiversidade e o cumprimento da lei. O seu novo anúncio não podia ser mais claro: a JBS continuará a alimentar a desflorestação na Amazónia durante pelo menos mais 14 anos, e a crise climática muito depois disso”, alerta Daniela Montalto, da Greenpeace. “Neste momento, qualquer empresa – banco, supermercado ou outra – que continue a negociar ou a investir na JBS estará a fazer troça dos compromissos de sustentabilidade. Além disso, serão intencionalmente cúmplices no fomento da catástrofe ambiental que ameaça o nosso planeta.” A JBS é também a maior produtora de carne do Brasil.
A indústria da moda é das que enfrenta mais críticas, por ser pouco sustentável e ter uma das maiores pegadas ambientais. E a indústria do couro, que providencia, além da moda, matéria-prima para a produção automóvel e de mobiliário, é também das mais insustentáveis: atualmente, 290 milhões de vacas são mortas por ano para a produção de couro. E estima-se que até 2025, mais de 430 milhões sejam mortas anualmente, para manter a produção de sapatos, malas e carteiras de pele.
No entanto, Gregg Higgs, um dos investigadores envolvidos no relatório, diz-se surpreendido com o nível da contribuição destas marcas de moda para a desflorestação, uma vez que muitas alegam aplicar medidas ecológicas e menos prejudiciais para o ambiente. “Com um terço das empresas inquiridas a ter algum tipo de política em vigor, seria de esperar que isso tivesse um impacto na desflorestação”, disse ao jornal britânico The Guardian. “A taxa de desflorestação está a aumentar, pelo que as políticas não têm qualquer efeito.”
Das 84 empresas analisadas pelo relatório, 23 tinham políticas explícitas sobre desflorestação, sendo que os investigadores concluíram que “provavelmente” essas empresas estarão a violar as suas próprias políticas.
Sônia Guajajara, coordenadora executiva da Aliança dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), disse que as marcas têm “a responsabilidade moral, a influência e os recursos económicos” para deixar de trabalhar com fornecedores que contribuem para o desflorestamento da Amazónia – hoje, “não em 10 anos, não em 2025”.
Céline Semaan, fundadora da ONG Slow Factory Foundation, concorda, realçando que o foco deve ser colocado em desenvolver alternativas que permitam a produção de produtos de couro sintético, com menos impacto para o ambiente e, claro, sem a morte de animais.
“No fim de contas, temos de encontrar outras soluções e alternativas ao couro que não sejam de origem animal e que não sejam de plástico”, diz. “Com os recursos que as empresas de moda têm, não há realmente desculpas.”