Ainda com uma pandemia a fazer sobressair as diferenças sócio-económicas de vários países – que, aliás, fez soar os alertas sobre a desflorestação e impacto da ação humana no ambiente -, a reunião deste ano parece ser uma luta contra o relógio, com uma agenda focada em tudo o que pode e deve ser feito com urgência.
Em todo o mundo, as tempestades, as inundações e os incêndios florestais estão a intensificar-se. A poluição do ar infelizmente afeta a saúde de dezenas de milhões de pessoas e o tempo imprevisível causa danos incalculáveis a casas e meios de subsistência também. Mas enquanto os impactos das mudanças climáticas são devastadores, os avanços para lidar com isso passam por um ar mais limpo, por criar bons empregos, restaurar a natureza e ao mesmo tempo desencadear o crescimento económico”, lê-se no documento da cimeira e no qual Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, fala da importância de planear o futuro.
Os principais objetivos
Na cimeira do clima deste ano, que vai decorrer em Glasgow entre 31 de outubro e 12 de novembro, há quatro objetivos, que visam salvaguardar o planeta, fazendo valer e cumprir o Acordo de Paris, que corre o sério risco de ficar aquém do desejado.
- Mitigar
Esta é a base do plano de ação: suavizar a subida das temperaturas, que já se sente um pouco por todo o mundo e poderá ter um impacto mais negativo e mais rápido do que o esperado.
O relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, lançado há dois meses, alerta para a eventualidade de a temperatura subir acima de 1,5 ºC em menos de dez anos, o que teria um impacto direto e nocivo na natureza e na saúde humana. No entanto, o cenário pode ser bem mais “catastrófico” do que o pensado, tal como a ONU alertou em setembro, ao revelar que os compromissos assumidos pelos Estados signatários do Acordo de Paris são altamente insuficientes, levando, tal como estão, a um aumento de 2,7 °C.
Para fazer frente a estes números e a potenciais cenários deles resultantes, a COP26 pretende mitigar o quanto antes o aquecimento, incentivando os países a apresentarem metas ambiciosas de redução de emissões para 2030, metas essas que se devem alinhar com o alcance de zero líquido até meados do século.
Para cumprir essas metas de expansão, os Estados precisam de acelerar a eliminação do carvão (os países desenvolvidos devem comprometer-se a aderir gradualmente até 2030, já os países em desenvolvimento ganham 10 anos nesta luta, devendo comprometer-se a eliminar a energia a carvão até 2040), reduzir a desflorestação, acelerar a mudança para veículos elétricos e incentivar o investimento em energias renováveis.
Na prática, é pedida uma “energia limpa” e uma melhor eficiência energética, e ainda medidas que permitam proteger 30% da terra e 30% dos oceanos até 2030, prevenindo, assim, um agravamento das alterações climáticas.
- Adaptar
Apesar de haver cada vez mais urgência na mudança de hábitos e ações (pessoais, industriais e governamentais), a realidade é que o clima está a mudar e as medidas de mitigação não são suficientes para travar as alterações climáticas – até porque a temperatura média global já subiu entre 1,1 ºC e 1,2 ºC.
Tendo em conta este cenário, a COP26 aponta como segundo objetivo a adaptação, isto é, um esforço conjunto para capacitar e apoiar os países mais afetados pelas alterações climáticas, estando, para isso, em cima da mesa a discussão da importância de haver medidas para proteger e restaurar os ecossistemas, construir defesas, sistemas de alerta e infraestrutura resiliente para evitar a perda de casas e até mesmo vidas, devendo, neste ponto, prestar-se ainda atenção à agricultura, de modo a garantir meios de subsistência para os povos afetados.
Todos os países devem ainda produzir uma Adaptation Communication (Comunicação de Adaptação), “um resumo do que estão a fazer e planear para se adaptarem aos impactos das mudanças climáticas, aos desafios que enfrentam e onde precisam de ajuda”, lê-se no site da COP26. Aqui, o objetivo é criar uma espécie de base de dados de informação que permita analisar e discutir de forma ampla o que pode ser feito.
- Financiar
A parte financeira da luta contra as alterações climáticas é, possivelmente, aquela que servirá de trampolim para que os dois primeiros objetivos sejam concretizáveis. Neste sentido, é pedido aos países desenvolvidos a mobilização de 100 mil milhões de dólares (cerca de €86 mil milhões) por ano até 2025. Este montante terá como finalidade ajudar os países em desenvolvimento a fazer face aos efeitos adversos das alterações climáticas.
Além disso, diz o documento oficial da COP26, “as instituições financeiras internacionais devem fazer a sua parte e precisamos de trabalhar para libertar os biliões de financiamento dos setores público e privado necessários para garantir a rede zero global”. Na prática, “o financiamento público [servirá] para “o desenvolvimento de infraestrutura para uma transição para uma economia mais verde e mais resiliente ao clima” e o financiamento privado “para financiar tecnologia e inovação e para ajudar a transformar os milhares de milhões de dinheiro público em biliões de investimento total no clima”.
- Colaborar
Por fim, mas tendo novamente por base o Acordo de Paris e a necessidade de apoiar as nações mais prejudicadas e menos preparadas para fazer frente às alterações climáticas, o quarto objetivo da COP26 apela ao trabalho conjunto, uma tarefa que tem tudo para ser simples pelo simples facto de os sinais de alerta serem mais do que claros, mas que pode complicar-se porque são cerca de 20 mil os delegados que irão avaliar e discutir os temas em cima da mesa. O próprio presidente britânico da COP26, Alok Sharma, admitiu que será “definitivamente mais difícil” chegar a um acordo global no final da cimeira do clima de Glasgow do que na de Paris em 2015.
Nesta onda de colaboração, o desafio passa por encontrar soluções para o mercado de carbono e por resolver as questões de transparência, sendo, para isso, importante criar um sistema universal que incentive todos os envolvidos a partilharem as suas iniciativas e a alcançarem os seus compromissos.
Na lista de prioridades deste objetivo de colaboração entre todas as partes está a finalização do Livro de Regras de Paris (que são as regras detalhadas que tornam o Acordo de Paris operacional) e a aceleração das ações para enfrentar a crise climática por meio da colaboração entre governos, empresas e a sociedade civil.