2019 foi o ano em que os mais novos acordaram: cidades de todo o mundo foram palco de manifestações climáticas nunca antes vistas. Governos e empresas estavam sob pressão para agirem. Mas depois veio a emergência pandémica e o assunto perdeu espaço mediático e político. Os jovens, no entanto, não baixaram os braços.
Foi precisamente no início de 2020, com a pandemia e os confinamentos à porta, que nasceu o LIDERA, um grupo de jovens preocupados com a crise climática, líderes nas suas áreas, da medicina à economia, do empreendedorismo à ciência, passando pela governação. A tentativa de influenciar as decisões públicas e privadas continua, mas noutros moldes.
“Somos jovens que pretendem ajudar Portugal na sua transição para a sustentabilidade”, resume Catarina Alves, uma das fundadoras da comunidade, em conversa com a VISÃO VERDE. “Queremos criar parcerias para encontrar soluções.” Com membros de diferentes quadrantes políticos, o grupo contribuiu, por exemplo, com propostas que ficaram na Lei de Bases do Clima do PS.
O grupo surgiu quase em contraciclo. Quando o LIDERA dava os primeiros passos, as notícias davam a pandemia como uma panaceia para a poluição e as emissões de gases com efeito de estufa. “Falava-se da pandemia como a salvação das questões ambientais, quando na verdade a pandemia ameaçava ser exatamente o contrário.” Nessa altura, publicaram uma carta aberta. “Dissemos que isto era uma oportunidade, se fosse feito um plano de recuperação que levasse em conta as questões ambientais.”
Isso parece estar a acontecer. “Estamos no bom caminho, atendendo a que 30% da “bazuca” europeia é para aplicar em projetos ambientais.”
O papel dos bancos
Perto do final desse ano terrível que foi 2020, houve uma boa notícia para o planeta: a derrota de Donald Trump, nas eleições americanas. “Biden pode ser importante para influenciar o mundo. O primeiro passo foi dado, com o regresso do país ao Acordo de Paris”, congratula-se Catarina Alves. Mas esse é apenas um ponto de partida, não de chegada, avisa Catarina Alves. “Não basta assinar o papel.”
Do mesmo modo, Portugal e a Europa também têm de ser mais ambiciosos no combate às alterações climáticas – está na hora de tomarem atenção às emissões em países asiáticos, por exemplo, provocadas pelo nosso consumo. “A neutralidade carbónica não tem só a ver com produção [local] de emissões. Toda a indústria está nos países em desenvolvimento. Quanto maior for a taxa carbónica, maior é o incentivo para levar a indústria lá para fora. E depois exigimos que eles resolvam o problema e reduzam as emissões…”
O caminho sustentável, acrescenta, passa em grande parte pelo setor financeiro. “Para a transição necessária,é fundamental o financiamento, tanto das ações de mitigação como de adaptação. As novas tecnologias precisam de investimento, as infraestruturas também. O esforço não pode ser só público. Precisamos que o sistema financeiro não empreste dinheiro a quem não está alinhado com os princípios do Acordo de Paris.” Felizmente, conclui isso já está a acontecer.
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