Uma boa intenção que esbarrou na realidade. Há dois anos, Tim Brooks, diretor de Sustentabilidade da Lego, anunciou que a empresa estava a trabalhar no desenvolvimento de material fabricado com plástico reciclado de garrafas (PET), para reduzir a sua pegada carbónica – um terço dos 1,2 milhões de toneladas emitidas por ano pela gigante dos brinquedos tem origem no fabrico das peças. Entretanto, a empresa percebeu que a alternativa era pior.
O problema parte do facto de o PET ser demasiado mole para as necessidades da Lego. Apesar de serem necessários dois quilos de petróleo para produzir um quilo do plástico convencional usado nas peças (Acrilonitrila butadieno estireno, conhecido por ABS), a energia consumida e os ingredientes que têm de ser adicionados ao material PET reciclado para lhe dar a mesma consistência acabam por provocar mais emissões de dióxido de carbono do que o plástico virgem.
Tim Brooks confessou ao Financial Times que, após o desenvolvimento de um protótipo e passados dois anos de testes, concluiu-se que era impraticável continuar o projeto. “O nível de perturbação na produção foi tal que teríamos de mudar tudo nas nossas fábricas. No final, a pegada de carbono seria maior. Foi dececionante”, admitiu o responsável pelo departamento de sustentabilidade da Lego, que emprega 150 pessoas. “É como tentar fazer uma bicicleta de madeira em vez de aço.”
Niels Christiansen, CEO da empresa, também não escondeu a frustração. “Testámos centenas e centenas de materiais. Simplesmente não é possível encontrar um material como aquele.” Desde o início do projeto, o objetivo foi sempre encontrar uma mistura que tornasse o produto final indistinguível do que é hoje comercializado.
Dois anos perdidos?
O caminho, a partir daqui, será a incorporação nos produtos de biomateriais e outros plásticos reciclados (embora não plástico recolhido do oceano, considerado demasiado degradado para o fabrico das peças). A empresa comprometeu-se, aliás, a triplicar o investimento em sustentabilidade. O CEO, Niels Christiansen, prometeu 3 mil milhões de dólares por ano até 2025, assegurando ainda que não fará repercutir esses custos no preço dos produtos.
O percalço, contudo, parece ter adiado os compromissos ambientais da Lego. Um porta-voz da empresa disse agora à BBC que a Lego “se mantinha totalmente comprometida em fabricar peças a partir de materiais sustentáveis até 2032”. Mas, há cinco anos, a administração tinha definido o ano de 2030 como meta para todos os produtos principais e as embalagens serem feitos de materiais sustentáveis (a que se junta a redução de emissões de dióxido de carbono em 37%).
A empresa fabrica mais de 100 mil milhões de peças de plástico por ano, dos quais 80% são feitos de ABS, o plástico virgem.