Os chimpanzés tratam as suas próprias feridas com insetos: apanham o animal, esmagam ou trituram-no na boca, e colocam-nos diretamente na ferida que têm. Este método peculiar está a contribuir para o debate contínuo sobre a empatia entre os animais, isto porque os investigadores observaram este comportamento nos chimpanzés na nação do Gabão, na África Ocidental, notando que os macacos não só usam insetos para tratar as suas próprias feridas, mas também as dos outros.
Tudo começou em 2019, quando uma chimpanzé chamada Suzee foi observada a tratar de uma ferida no pé do seu filho, onde aplicou o inseto esmagado. Nos 15 meses seguintes, até este mês, os cientistas observaram tal fenómeno mais 19 vezes com outros chimpanzés, explorando estas duas impressionantes ações: o tratamento de feridas com insetos e a aparente empatia com os outros.
Apesar de não se ter conseguido identificar o inseto que foi usado nas feridas, os investigadores acreditam que seja um inseto voador, devido ao rápido movimento dos chimpanzés para o apanhar. Certos tipos de insetos podem conter substâncias anti-inflamatórias que têm um efeito calmante.
“Quando vamos para a escola e nos ensinam nos livros de biologia as coisas incríveis que os animais podem fazer…”, esta pode ser de facto uma delas, disse à agência AFP Simone Pika, bióloga da Universidade de Osnabruck, na Alemanha, e co-autora do estudo publicado revista Current Biology.
“Os chimpanzés têm sido sugeridos como candidatos importantes para estudos sobre a evolução de comportamentos pró-sociais porque participam de uma variedade de atividades que beneficiam da cooperação, como patrulhas territoriais”, escrevem os autores.
“No entanto, a literatura permanece controversa, com algumas evidências que sugerem que os chimpanzés não têm comportamentos pró-sociais que envolvem o tipo de empatia que se pensa caracterizar os humanos, enquanto outros argumentam que as tendências pró-sociais exibem características consistentes com empatia”, afirmam no texto.
Portanto, acrescentam os investigadores, “as nossas observações podem adicionar outra faceta ao debate em andamento sobre comportamentos pró-sociais e inspirar estudos futuros que investigam os comportamentos em torno do tratamento de feridas e a potencial função medicamentosa da aplicação de insetos”, concluem.