Aquilo que se passou no sábado em águas islandesas deixou em choque os grupos de conservação marinha Sea Shepherd e Hard to Port. Após a divulgação de fotos tiradas durante a captura do cetáceo, depressa se gerou uma onda de consternação em vários pontos do globo. Kristjan Loftsson, o caçador de de baleias e magnata pesqueiro que gere a empresa Hvalur hf (Whale Inc.), na Islândia, negou à CNN ter infringido as normas internacionais que protegem a espécie. Além disso, acrescentou o empresário, a caça às baleias é bem aceite na Islândia, admitindo mesmo que o exemplar capturado era provavelmente uma baleia-comum ou um híbrido. Mesmo que venha a comprovar-se a sua tese, algo que pode levar ainda alguns meses, estas não deixam de ser consideradas, também, no grupo de espécies em perigo.
Há outro fator que deita por terra a argumentação de que todo este ruído assenta num equívoco. A análise das fotos feita por especialistas leva a crer que há uma ilegalidade grave, uma vez que o exemplar em questão não tem um lábio branco como a baleia-comum. Já o tamanho da cauda, as manchas do flanco, bem como a cor e a forma da barbatana sugerem tratar-se efetivamente de uma baleia azul, o maior animal do mundo: o seu comprimento pode ser superior a 30 metros e o peso atingir mais de 200 toneladas na fase adulta, estimando-se que não existam mais de 25 mil exemplares (200 mil antes da caça comercial no século passado).
Japão: onde está a solução?
Há razões de sobra para a notícia estar a navegar oceanos: a confirmar-se que se trata mesmo desta espécie, após a realização dos testes genéticos seria a primeira vez em meio século que haveria registro de um crime como este. A Balaenoptera Musculus, ou baleia-azul, foi caçada durante anos com finalidades comerciais, sobretudo entre 1940 e 1960, até que a sua captura foi interdita. Desde então, tem sido protegida pela Comissão Baleeira Internacional.
Entre os ativistas e as organizações de proteção da vida marinha, indaga-se porque razão ainda se matam estas criaturas tão raras e belas, alegando razões científicas ou alimentares (mas nunca com fins puramente lucrativos, passando por cima da letra da lei).
A carne das baleias capturadas pela empresa de Kristjan Loftsson, a única a operar comercialmente na Islândia, com dois navios baleeiros, costuma ser vendida ao Japão. E porquê o Japão? Por nesse país ser rejeitado o acordo internacional que assegura a proteção deste cetáceo. Este é um argumento de peso para a prática não ser considerada ilegal. Mas falta saber se é, ou não, a espécie protegida e a maior do mundo. É que nesse caso, o seu consumo é igualmente interdito, por não ser permitida a comercialização.
O que parece estar aqui em causa é a questão da ética e da legitimidade, sobretudo quando se sabe, pelo recente relatório da International Whaling Commission (IWC), que ao longo de três meses teve lugar uma verdadeira chacina em mares japoneses que envolveu mais de uma centena de baleias grávidas, em nome… da investigação.