A imagem que surge na janela de conversação do Skype mostra um homem com um ar sorridente mas cansado. Onde ele está, do outro lado do mundo, a caminho da Indonésia e de mais uma campanha de luta em defesa do planeta, já é final do dia. Mas nem por isso se lhe esgota a simpatia ou o otimismo. “Sou um ambientalista convicto. Quando partir, quero pensar que fiz do mundo um lugar melhor.”
Falamos com Pete Bethune, 50 anos, alguém que começou a carreira como engenheiro em explorações petrolíferas até que, em 2004, ciente do imenso impacto dos combustíveis fósseis no meio ambiente, trocou as plataformas pela ação cívica – e começou a planear algo que atraísse a atenção de todos para o potencial das energias renováveis. Quatro anos depois, Bethune e a sua equipa batiam o recorde de velocidade da circum-navegação na Earthrace, a lancha a motor mais famosa do mundo, usando apenas combustível 100% biológico (curiosidade: quem lhe forneceu esse biodiesel foi uma empresa portuguesa: SGC energia).
Daí a outros combates foi um passo. “Andei quatro anos no mar e muito do que encontrei desapontou-me imenso. Foi quando me apercebi das atrocidades que se cometem.” Um ano depois, entrou em ação, ao levar o seu barco até ao Santuário de Baleias da África Austral, para cooperar com outro grupo ambientalista na detenção da frota baleeira japonesa. Foi então que um incidente abalou a indústria da pesca da baleia e o mundo: ao ver a sua lancha ser abalroada, o ativista meteu-se no seu jet-ski para ir até ao navio japonês exigir uma indemnização. Acabou detido durante cinco meses, num julgamento que lançou finalmente luz sobre aquela bárbara indústria.
“Fiquei muito zangado por ter sido enfiado [cinco meses] numa prisão de alta segurança e pela forma duvidosa como decorreu o processo. Mas, apesar de condenado pela Justiça, ganhei a opinião pública. Valeu a pena.”
Quando foi libertado, tomou a firme decisão de levar a sua luta para um patamar superior e formar um grupo de ecoguerrilheiros – voluntários que lutam pela defesa do Ambiente da forma mais extrema que se conhece.
Um trabalho duro que alguém tem de fazer? “É um trabalho extraordinário, tenho uma vida incrível!”, garante, apesar de reconhecer que há dias mais difíceis, quando é preciso enfrentar “gente duvidosa” e tentar sobreviver a “trocas de tiros”, no meio de tempestades. E nunca tem medo? O neozelandês respira um segundo e assume: “Não me considero a criatura mais corajosa do mundo, assusto-me como os outros… mas também acredito que isso é o que me dá força para continuar.”
Além do apoio de ex-militares altamente treinados, que foi buscar às fileiras de forças especiais como os Seal, Delta Force e SAS, Bethune e a sua Earthrace Conservation (o nome com que batizou a organização) contam ainda com o que há de mais recente na tecnologia militar, desde helicópteros de assalto a lanchas anfíbias, drones com infravermelhos ou câmaras de visão noturna. Tudo para denunciar ao mundo a destruição do planeta.
A chamada Skype termina. Mais uns dias e Bethune há de seguir viagem para as Filipinas. Uma saga da qual também havemos de ter notícias, com toda a certeza.
Missões em série
Eco warriors acompanha as mais radicais operações de uma equipa militar de elite convertida no grupo ecologista mais radical do planeta e estreou a 5 de junho, Dia Mundial do Ambiente, no canal Odisseia. Como alvo, os ecoguerrilheiros elegeram uma série de atentados ambientais em África e na América Latina, seja a morte de milhares de crias de focas na Namíbia ou as técnicas de arrasto ilegal na Costa Rica. Poderemos ver Pete Bethune e outros ecoguerrilheiros em ação todas as sextas-feiras, às 22h30, até 28 de julho.