Há alguns anos que os cientistas apresentam dados preocupantes sobre a poluição marinha: seja a existência de partículas de plástico em áreas muito remotas do oceano, seja a descoberta de grandes acumulações de lixo. A “Grande Ilha de Lixo do Pacífico” é talvez o fenómeno mais extremo, documentado e conhecido. Mas várias “sopas de plástico” ou praias onde dão à costa toneladas de detritos têm sido alvo de investigação. A situação global dos oceanos do Planeta Terra é que era desconhecida. Até agora.
O estudo “Detritos de plástico em oceano aberto“, liderado pelo biólogo marinho espanhol Andrés Cózar, mostra, pela primeira vez, a real distribuição das quantidades de lixo plástico marinho à superfície e foi publicado há menos de um mês na revista de divulgação científica Procedings, da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos da América.
Foram identificadas milhões de partículas de plástico que flutuam e se acumulam à volta dos cinco grandes giros existentes nos oceanos mundiais (Atlântico Norte, Atlântico Sul, Oceano Índico, Pacífico Norte e Pacífico Sul), criados por correntes oceânicas circulares, que fazem os detritos ora concentrarem-se no seu centro ora serem expelidos e gravitarem nas zonas adjacentes.
É para estas áreas que convergem dezenas de milhares de toneladas de lixo plástico que se vai degradando e entrando na cadeia alimentar dos seres vivos marinhos, com consequências devastadoras. Estima-se que morram cerca de 1 milhão e quinhentos mil animais (de aves a peixes, tubarões, tartarugas, golfinhos e baleias) todos os anos, devido à ingestão de plástico.
Embora o mapa agora revelado mostre, pela primeira vez, a extensão do problema, os cientistas desconfiam que há muito mais plástico nos mares que aquele que foi identificado, só ainda não perceberam o que lhe acontece e quais as consequências que provoca.
“Não sabemos o que é que este plástico está a fazer. Está em algum lugar, na vida do oceano, nas profundezas, ou dividido em partículas finas indetetáveis por redes”, disse Andrés Cózar à revista National Geographic (NG).
Uma das razões adiantadas por este professor na Universidade de Cádis para o facto de ter sido detectada menos concentração de partículas de plástico à superfície que a esperada – tendo em conta que a produção mundial deste material quadruplicou desde os anos 1980 – é que esses detritos minúsculos estejam a ser consumidos por pequenos peixes, que vivem na zona mesopelágica do oceano (entre os 200 e os 1.000 metros de profundidade abaixo da superfície).
Os peixes de profundidade média do Oceano Pacífico Norte ingerem, anualmente, entre 12 mil a 24 mil toneladas de plástico – o que equivale a 480 milhões de garrafas de plástico de dois litros ou ao peso de 132 baleias azuis.
Que efeito tem este plástico na vida marinha de alta profundidade é que talvez nunca se venha a saber, como desabafou Cózar à NG: “Infelizmente a acumulação de plástico no fundo do oceano vai modificar esse ecossistema enigmático antes que possamos realmente conhecê-lo”.
Para construir o mapa agora revelado analisaram-se 3.070 amostras de água. Os dados foram recolhidos durante a expedição científica Malaspina 2010 (um projecto do Estado Espanhol que, durante nove meses, circumnavegou os mares do planeta, para estudar os efeitos do aquecimento global nos oceanos e a biodiversidade dos ecossistemas em águas profundas) a que se juntaram informações de outras campanhas que tinham recolhido material nas regiões polares, no Pacífico Sul e no Atlântico Norte.