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“Uma sociedade não sobreviverá com os mesmos standards do passado, se a crise a destruir.” Nikos Chrysogelos, eurodeputado grego do Grupo europeu Os Verdes, põe a tónica num novo modelo de desenvolvimento que permita relançar economicamente os países do Sul da Europa.
Chrysogelos, que nos recebeu no seu gabinete, em Estrasburgo, é um dos membros ativos do Projeto Ulisses, uma rede e um movimento que pretende ser um catalisador de ideias com vista à definição de um novo paradigma de crescimento para os denominados PIIGS (acrónimo para Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha).
Apresentado há um ano, em Bruxelas, o Projeto Ulisses entra agora numa segunda fase. Depois de feito o diagnóstico dos fatores que determinaram as assimetrias dos países periféricos em relação aos do Centro e Norte, chegou a fase da ação. E, para isso, é preciso “imaginação e criatividade”, diz Rui Tavares, eurodeputado português do Grupo Os Verdes, e o “maestro” do Ulisses.
Apesar de vários deputados dos Verdes fazerem parte do movimento, este “não pretende ser um projeto político, no sentido de pertencer a um partido”, esclarece Rui Tavares. “Queremos que seja transversal e, se hoje está no Sul, amanhã poderá estar no Centro ou no Norte.”
O que se deseja, sim, é que as cidades dos PIIGS possam tornar-se o “centro de qualquer coisa”, diz o eurodeputado português. E isso pode, por exemplo, acontecer se forem criadas as Universidades da União, uma ideia de Rui Tavares para fomentar o crescimento aproveitando recursos já existentes.
‘New Green Deal’
À imagem do New Deal, que foi uma resposta do presidente norte-americano Franklin Roosevelt ao crash de 1929, através do apoio a políticas de recuperação económica, os membros do Projeto Ulisses querem fazer um New Green Deal, com prazo de execução de dez anos, assente em três conceitos: política industrial ecológica, com redução das emissões de CO2; política social inclusiva; rerregulamentação macroeconómica que termine com o peso excessivo do setor das finanças e assegure que esse setor se mantenha controlável e reflita a economia real.
“Estes países têm uma disponibilidade de energias renováveis muito grande: sol, vento, mar, biomassa”, observa Raual Romeva, eurodeputado espanhol do Grupo Os Verdes. Por isso, afirma, “tem de se investir em políticas públicas que facilitem a sua exportação”. Mas não só, já que “sem a participação das sociedades não se fazem reformas”, faz notar Nikos Chrysogelos. Assim, acrescenta, o Ulisses “pode promover o aprofundamento do diálogo entre as sociedades e os seus atores sociais com o intuito de se chegar a um plano alternativo”. A cooperação e a solidariedade entre países pode ser, desta forma, a solução.
É para incentivar esse diálogo e a procura de ideias que já foram feitas algumas conferências em Lisboa e que, mais recentemente, o Projeto Ulisses passou a partilhar um espaço, na zona do Conde Barão, em Lisboa, com a Associação DNA (um grupo multidisciplinar que apresenta espetáculos de teatro, dança, artes visuais, música e que pretende gerar novas ideias para a literatura e o pensamento). Rui Tavares quer que o Ulisses (www.projetoulisses.net) seja um movimento “ecológico, solidário e libertário que evite novos erros” e, para que essa intenção se torne num plano sólido, pretende propor a criação de uma Agência Europeia Ulisses.
O documentário – A análise da crise e os casos de sucesso
A segunda fase do Projeto Ulisses integra, também, por um documentário filmado em Portugal, Itália, Grécia e Espanha. A ideia original do eurodeputado português Rui Tavares ganhou formato de ecrã e conta-nos os “porquês” da crise económica, nos países do Sul da Europa, com testemunhos de vários especialistas e bons exemplos empresariais que podem ser replicados noutros locais. Produzido e realizado pela empresa Farol de Ideias, o documentário, de 76 minutos, narra, ao mesmo tempo, a história de Ulisses, o herói grego que, depois da guerra de Troia, fez uma viagem (Odisseia) de dez anos para voltar a Ítaca e à sua mulher Penélope.