A bordo do creoula, convertido em navio oceanográfico, acompanho os trabalhos de pesquisa da campanha MarBis 2013. A quantidade de informação e de amostras recolhidas pelos biólogos que triam as espécies neste laboratório improvisado vai-me surpreendendo dia após dia e em cada mergulho exploratório. A biodiversidade marinha em particular aqui no Algarve é imensa e aparentemente goza de boa saúde.
O Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve está representado por Francisco Fernandes. Este jovem biólogo marinho de apenas 22 anos apresenta uma maturidade e capacidade de liderança fora do comum. Coordena um total de 11 pessoas empenhadas em extrair toda a informação possível para enriquecer o conhecimento e o estudo dos cinco projetos aos quais se dedicam, durante esta campanha. Esta equipa de biólogos e estudantes do meio marinho são justos e dignos representantes de um leque muito maior de investigadores que ficaram em terra, pelo que a responsabilidade incutida nesta equipa é ainda maior. Tal como um treinador de topo colocado bem no centro do terreno, Francisco Fernandes ensaia no convés do Creoula o método que os seus jogadores, muitos deles voluntários, aplicarão durante os mergulhos. Trata-se de explicar quais as melhores formas de medição e foto catalogação inseridos nas várias frentes de trabalho.
Em jeito de balanço provisório dos trabalhos em curso Francisco apresenta-me cada um dos projetos e os vários objetivos destes estudos.
O projeto Seaprolif invasives aplica o seu estudo sobre os recifes coralinos e o seu estado de conservação. Procura detetar a invasão de algas e a potencial destruição de habitats que esse fator acarreta. Durante os mergulhos observamos e recolhemos amostras das algas vermelhas, sobretudo estas congregam pólos de micro organismos e vivem uma vida de dependência sobre os recifes de coral. Na zona de sagres devido aos fundos mais rochosos a incidência da espécie Asparagopsis Armata é maior, trata-se de uma alga que também aborrece os mergulhadores. Cola-se aos fatos de mergulho como se fosse um velcro, após um mergulho numa zona onde abundem, mais parecemos uns rangers da floresta camuflados, confesso que a experiência não é de todo agradável. Na continuidade desta monitorização percebe-se que também a intervenção humana danifica e interfere negativamente com o meio marinho. As linhas de pesca danificam os corais criando cortes e causando necroses. Existe uma grande diversidade de espécies coralinas e a sua distribuição é homogénea, abundando de forma positiva sobretudo na zona de Sagres. “Na nossa experiência de campo dentro deste tema criámos um esquema de amostragem para melhor percebermos quais os intervenientes na proliferação das algas. Desde as zonas de concentração, os seus nutrientes, as condições de luz e temperatura bem como a exposição às agitações marítimas. Depois de analisarmos todos estes indicadores conseguiremos criar diretrizes de informação para melhor preservar a biodiversidade. No caso concreto do sargaço e em virtude de sofrer também com as alterações climáticas, começámos a perceber que as comunidades residentes de gastrópodes e peixes se vai alterando ao longo do tempo.”
O projeto de estudo sobre o pepino do mar poderá constituir num futuro próximo uma fonte de riqueza para os pescadores do algarve. Trata-se de um recurso pesqueiro até ao momento, nada apelativo para a nossa indústria, não temos tradição na sua transformação e consumo, mas todo o processo pode inverter-se se forem dadas a conhecer as potencialidades tão apreciadas nos países asiáticos. Durante as operações de mergulho o grupo do Centro de Ciências do Mar identificou as várias espécies, os seus stocks e a conectividade das várias populações destes seres da família das Holotúrias, tratam-se de invertebrados marinhos que pertencem à classe dos equinodermes, como os ouriços e as estrelas-do-mar. Portugal ainda não despertou para o comércio deste recurso abundante na nossa costa. Espanha explora-o através da aquacultura. O pepino do mar é uma iguaria bastante apreciada. Ao ser capturado é seco para depois ser comercializado e exportado sobretudo para a China, Japão e Coreia. Pela sua forma e características esta especialidade gastronómica adquire um simbolismo ligado aos ingredientes afrodisíacos e curativos.
Também as alterações de larga escala em termos ambientais não são esquecidas e um dos projetos com o qual a equipa comandada por Francisco Fernandes se prende é o reconhecimento dos refúgios climáticos existentes, só eles garantem o sucesso da continuidade das espécies. Trata-se do projeto Extant Edges, conduzido através da amostragem de algas castanhas, modelo já referenciado em laboratório com marcadores genéticos, extraindo o DNA ficamos a perceber quais os artefactos que a população mantém. Deduzindo desta forma quais os impactos de largo espetro que as alterações climáticas provocam.
O projeto Deep Reefs envolve mergulhos profundos e técnicos para se poder monitorizar e estudar os fundos marinhos abaixo dos 30 metros no intuito de mapear e conhecer o habitat existente. Nestas profundidades existem espécies de elevado interesse comercial e que deverão ser protegidas. Para além de ser uma zona pouco conhecida em termos de biodiversidade, encontramos nas profundezas do mar no Algarve duas espécies de coral de interesse para a indústria da joalharia. Trata-se do coral negro e do coral vermelho. Estas espécies crescem cerca de 1 milímetro por ano podendo atingir os mil anos de idade. No entanto e porque se situam numa zona bastante utilizada pela pesca de arrasto, entre os 30 e os 80 metros de profundidade, será difícil manter intacto este verdadeiro tesouro. O caso mais mediatizado pela imprensa foi a apreensão por parte das autoridades, de uma grande quantidade de coral vermelho na zona de Portimão.
Existe uma necessidade urgente de regulamentação e sobretudo de proteção das zonas onde proliferam estas espécies, por parte das autoridades competentes.
Por último, procurando que seja um projeto de continuidade a fazer lembrar o Geocache, o Reef Keep pretende monitorizar ao longo do tempo a evolução de zonas específicas de recife, criando através do mapeamento e registo fotográfico uma sequência evolutiva da biodiversidade existente. Qualquer mergulhador pode contribuir para este projeto, bem como os centros de mergulho, verdadeiros aliados na evolução e monitorização dos recifes. Basta mergulhar nos locais georeferênciados e trazer uma fotografia em tudo idêntica em termos de enquadramento às já existentes, carregá-la na base de dados existente e comparar a evolução da biodiversidade marinha.
Constatei que os trabalhos em várias frentes em cada um destes projetos decorriam com um profissionalismo e conhecimento profundo dos temas de estudo. Juntamente com Francisco todos os mergulhadores e biólogos envolvidos nos projetos do CC Mar são excelentes e dignos representantes da grande instituição que é a Universidade do Algarve que continua empenhada em formar os novos exploradores do mar português.
Para mais informações e conhecimento dos projetos do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve
Video:
Video filmado por Francisco Fernandes e Diogo Mendonc?a Vieira, editado por Francisco Fernandes
Links:
http://www.ccmar.ualg.pt/cumfish/
CUMFISH: https://www.facebook.com/groups/408508309208037/
Faculdade de Ciências do Mar e Ambiente da Universidade do Algarve
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