A Estrutura de missão para a extensão da plataforma continental, criada em 2004, tem o intuito de estudar e apresentar uma proposta para o aumento do território sobre a jurisdição exclusiva nacional, em particular sobre o mar português.
Pela primeira vez na história, alcançou-se uma concertação pacífica, baseada em leis conjuntas entre países costeiros. Congregando estudos sobre o conhecimento marítimo de cada nação que reúna uma proposta sustentada, os países poderão ver os seus mapas renovados para além das suas zonas exclusivas em mais cento e cinquenta milhas náuticas para alem das duzentas milhas da zona económica exclusiva.
Até 2015, data provável em que seja ratificada e aprovada nas Nações Unidas a ambição de Portugal conquistar mais mar no século XXI, serão feitos esforços políticos e científicos no sentido de credibilizar e expandir esse desejo geoestratégico. Estamos perante uma era de conquista diplomática sustentada pela ciência.
Bem longe da época em que partir por mar para conhecer e conquistar era sempre uma epopeia incerta, muitas vezes inglória. O que diria o Infante D. Henrique sobre esta fórmula política e estratégica de alargamento do território, também ela carregada de aventura sobre o conhecimento? As campanhas marítimas M@rBis surgem como pontas de lança nesta estratégia global. Através de operações criadas para estudantes, cientistas, biólogos e todos aqueles que desenvolvam projetos, tendo por base o enriquecimento sobre a biodiversidade e os recursos marinhos, criando uma plataforma de trabalho prático sobre o mar.
São selecionados estudos e equipas a participar em expedições marítimas, tendo por base o navio de treino de mar Creoula, transformado em laboratório e centro de mergulho para todos estes investigadores durante alguns dias por ano.
Dando continuidade às campanhas realizadas nos anos anteriores: Ilhas Selvagens (2010), no ano seguinte a prospeção continuou no arquipélago da Madeira, ilhas Desertas e Porto Santo, terminando nos Açores junto ao ilhéu das Formigas e em Santa Maria.
Em 2012 a expedição concentrou os seus trabalhos nas Berlengas. Este ano as baterias estão apontadas ao conhecimento profundo da biodiversidade da costa algarvia em toda a sua extensão.
Desde os fundos arenosos, aos recifes artificiais e parques submarinos, ao longo de vinte dias, toda a área da orla costeira do Algarve, de Vila Real de Santo António a Sagres será estudada, com o crivo da ciência.
Realizar-se-ão censos às comunidades de peixes e cetáceos, serão recolhidas amostras de espécies, mapear-se-á o leito marinho, tudo realizado por quem melhor do que ninguém está ávido de conhecimento e descoberta de novas espécies para a ciência: mergulhadores e descobridores modernos.
Se cruzarmos toda a informação recolhida, facilmente percebemos que Portugal é detentor de um autêntico tesouro marinho. Considerado como projeto de interesse nacional, a estrutura e as campanhas M@rBis são uma plataforma de excelência para a criação de um sistema de informação.
Se pensarmos no interesse comercial direto perceberemos que o setor das pescas beneficiará do conhecimento e localização das espécies existentes. No campo da medicina e farmacêutica há um enorme interesse pelos recursos marinhos vivos, veja-se o exemplo de alguns compostos bioquímicos sintetizados por esponjas: uns usados num medicamento de combate ao herpes, e outros no tratamento do VIH.
Segundo Frederico Dias, o coordenador do projeto M@rBis, a campanha atualmente a decorrer nos mares do Algarve poderá ser vista pelo seguinte prisma:
“De forma geral e concreta, sobre a biodiversidade marinha nacional, queremos saber o que há e onde existe, só assim poderemos gerar um conhecimento profundo criando um sistema de informação marinha georreferenciada das águas nacionais bastante completo. Paralelamente a este projeto estaremos aptos a fundamentar de forma consistente todas as novas áreas marinhas que deverão ser protegidas ao abrigo da Rede Natura 2000. O Algarve reúne as condições ideais para o enriquecimento da nossa missão. Até hoje os estudos realizados por universidades e associações nacionais realizaram estudos específicos e localizados sobre vários temas. É nosso objetivo prático congregar todos os estudos, queremos desenvolver um conhecimento profundo sobre os recifes artificiais e os ecossistemas que aí se regeneram, por exemplo. Informação vital para o setor das pescas.”
“Temos uma grande e diversificada área de atuação. Esta é uma zona de confluência do mediterrâneo e o atlântico, queremos identificar o maior número de espécies e certamente descobriremos algumas, novas para a ciência. O “Creoula” é um ícone da marinha portuguesa, reúne boas condições para albergar toda esta grande família da ciência. No total somos 82 pessoas a trabalhar para um fim comum, o que é muito gratificante de coordenar. Consideramos a guarnição parte da equipa científica, todos contribuem de forma muito positiva para o sucesso da nossa Missão”. Concluiu o chefe da missão, ao mesmo tempo que observa as novas amostras trazidas de mais um mergulho de prospeção.