À medida que envelhecemos, vamos tomando consciência das inúmeras diferenças que os dias de hoje apresentam relativamente ao tempo da nossa infância, ou mesmo da nossa juventude. Naturalmente que não fujo à regra, entregando-me por vezes a essa nostálgica actividade.
Mas há uma componente dessas diferenças geracionais que, cada vez mais, contrasta com os dias de hoje – a nossa postura para com o planeta e os recursos que dele dispomos. À partida a orientação dessa diferença podia ser clara e bem definida, mas tal não acontece. O conhecimento sobre a situação do planeta, o impacto da nossa actividade no ambiente e noção das consequências que já estamos a sofrer são cada vez maiores. Por essa razão, seria natural que o nosso comportamento acompanhasse esse conhecimento, procurando o ser humano minimizar o seu impacto no planeta. Mas nem sempre é assim tão linear. A realidade é que o comportamento ambiental do ser humano no presente está longe de ser coerente.
Vejamos então. O nosso impacto do planeta está mais do que identificado, quanto muito podemos descobrir que estamos a ter ainda mais impacto do que o que já sabemos. O normal seria que utilizássemos a capacidade inventiva do ser humano para procurarmos diminuir essa consequência da nossa presença na Terra. E só podemos falar em diminuir. Porque assumamos que impacto iremos ter sempre, ainda por cima com uma população mundial com a dimensão da existente. Mas é nessa altura que entra o factor economia.
Estamos mais do que dispostos a diminuir o impacto no ambiente desde que isso não custe muito dinheiro. Ou ainda pior, desde que isso não nos impeça de ganhar mais dinheiro. Por isso, quando as medidas para diminuir esse impacto têm repercussões imediatas e positivas na nossa economia (quer individual, quer empresarial ou estatal), empregamos o conhecimento adquirido em políticas mais sustentáveis. Mas quando o contrário acontece e poupar o ambiente mexe negativamente com a economia, surgem os bloqueios ao mais alto nível. Basta pensarmos no tempo que está a demorar uma alternativa generalizada aos combustíveis fósseis.
Mas mais ainda. Estamos a abandonar comportamentos que tínhamos antes e que eram sustentáveis, em detrimento de outros insustentáveis, por serem baratos.
Pensem na última vez que conseguiram reparar um aparelho electrónico de baixo/médio investimento (e.g. torradeira ou rádio) sem se aperceberem que só o valor do orçamento da reparação era quase o mesmo de um novo?; ou que ouviram a inequívoca melodia de um amola-tesouras (para os que sequer sabem o que este profissional fazia)?; ou mesmo na última vez que usaram guardanapos de pano em casa, em detrimento dos descartáveis? Aquilo que constituíam algumas das antigas práticas de poupança familiar, saem hoje mais caras do que simplesmente adoptar a política do descartável, ou simplesmente não compensam o tempo investido nelas.
Hoje é mais barato deitar fora e usar descartável do que reutilizar, gastar mais matéria-prima no fabrico de novos equipamentos do que reduzir. Olho para trás e recordo inúmeros comportamentos ambientalmente mais responsáveis do que os que praticamos nos dias de hoje. Não sou particular fã dessa frase, mas ao continuarmos por este caminho damos razão aos nossos pais e avós, quando nos vão dizendo que “antigamente é que era bom”…