Velhotas a praticar tai chi, envoltas num nevoeiro denso, quase palpável; condutores de motorizadas que não enxergam um palmo à frente do nariz; transeuntes que caminham nos passeios, com máscaras de combate contra gases. O nevoeiro tóxico cobriu Pequim, no fim de semana, e fez soar os alarmes na cidade, uma das mais poluídas do mundo.
“O número de pessoas que têm chegado às urgências com ataques de coração duplicou, desde sexta-feira, quando a poluição se tornou verdadeiramente grave”, afirmou à Bloomberg Ding Rongjing, o responsável pelo serviço de cardiologia do Hospital Popular da Universidade de Pequim.
Entre os mais afetados, contam-se as crianças. Na semana passada, cerca de 7 mil por dia, valor nunca atingido nos últimos cinco anos, procuraram os serviços do Hospital Infantil de Pequim, com sintomas relacionados com doenças respiratórias. No fim de semana, os casos passaram para cerca de 10 mil e 900 crianças tiveram de ser tratadas com nebulizadores.
Nos redes de retalho, como a Taobao e a Tmail, foram vendidas 500 mil máscaras em 48 horas, 140 mil das quais compradas por habitantes de Pequim.
O mais grave manto tóxico de sempre pôs em causa anos de retórica governamental. As estatísticas das autoridades asseguram que os “dias de céu azul” têm aumentado desde 1998, quando foi lançada uma campanha para diminuir a poluição. O ano passado, segundo dados oficiais citados pelo Financial Times, 286 dos 365 dias do ano foram “azuis”. Mas ninguém acredita.
Os níveis de “poluição aceitável”, na capital chinesa, são três vezes superiores aos dos EUA e só o ano passado começaram a ser reportadas as concentrações de minúsculas partículas em suspensão, as mais prejudiciais para os seres humanos.
“É o pior nível de poluição de sempre, em Pequim, quer de acordo com os dados do Governo, quer com os da Embaixada dos Estados Unidos”, afirmou Zhou Rong, porta-voz da Greenpeace na capital chinesa.
Atualmente, o nível de poluição, medido através do Índice de Qualidade do Ar, atingiu 500 pontos. Segundo as regras do Governo, quando os valores atingem 300 pontos, as crianças são aconselhadas a deixar de praticar atividades ao ar livre.