Maria Luísa Cardoso nunca esteve sozinha. Até que o marido morreu. “Sempre andei rodeada de filhos e netos, mas eles têm a sua vida. Comecei a sentir-me deprimida, numa grande solidão.” Entretanto, uma amiga falou-lhe do Programa Aconchego. A Câmara Municipal do Porto, através da sua Fundação Porto Social, andava precisamente à procura de idosos solitários que quisessem receber em sua casa, durante um ano letivo, um estudante universitário, no âmbito de uma parceria com a Federação Académica da cidade. Ao oferecerem um quarto, ganhavam companhia. O projeto parecia ter sido feito de encomenda para Maria Luísa, que logo se disponibilizou a participar.
“Estou muito contente. A Susana é uma menina esperta, inteligente, sensata, carinhosa. Entrou-me o sol em casa.” Susana Costa da Silva, 21 anos, a sua inquilina, não está menos satisfeita. “Moro em Espinho, frequentava a Universidade Católica e perdia, todos os dias, imenso tempo nos transportes públicos tempo que podia aproveitar para estudar. Quando soube deste programa, inscrevi-me. E se tivesse de avaliar a minha experiência, de zero a 20, dava-lhe cem.” Mais do que os números valem os atos: quando terminar o seu estágio do final do curso de Direito e começar o mestrado, Susana vai continuar a viver com Maria Luísa.
LAÇOS DE TERNURA
O Programa Aconchego, um dos 50 projetos municipais analisados pela Inteli, foi criado em 2004. Desde aí, já uma centena de jovens esteve pelo menos um ano a viver em casa de pessoas idosas que moravam sozinhas, pagando apenas o preço simbólico de 25 euros, para ajudar nas despesas correntes. Neste momento, no Porto, há 18 estudantes espalhados por 15 destas “casas de acolhimento”, com mais 32 numa lista de espera. O êxito do projeto contabiliza-se no número crescente de idosos a disponibilizarem-se para acolher jovens e no reconhecimento internacional: há dois anos, a Comissão Europeia atribuiu-lhe o Prémio Inovação Social. Dentro de fronteiras, a Câmara do Porto tem recebido pedidos para ajudar a replicar o programa noutras cidades.
“Queríamos fazer frente a um dos principais problemas no Porto: o isolamento na Terceira Idade, que tem vindo a aumentar”, diz Guilhermina Rego, vereadora da autarquia portuense e presidente da Fundação Porto Social. Por outro lado, muitos estudantes das universidades locais moram fora da cidade e precisam de um quarto de preferência, barato. Conciliar a carência de companhia dos mais velhos com a necessidade um teto dos mais novos resultou neste ovo de Colombo. “Jovens universitários”, explica Guilhermina Rego, “usufruem de uma habitação, junto de uma geração mais idosa que ainda tem muito para dar, partilhando os seus conhecimentos e a sua experiência, e que precisa de companhia. Cria-se um ambiente de família.” É mesmo esse o ambiente que se vive em casa de Maria Luísa. “Somos compatíveis”, diz Susana. “Vemos filmes e séries juntas… E ela é uma pessoa muito viajada, cheia de conhecimentos. Aprendo imenso.” A sua anfitriã responde-lhe. “Ela diz que aprende muito comigo, mas eu também aprendo com ela.”
[ Número ]
18
Estudantes universitários que vivem em casa de idosos, no Porto
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PROJETO UMA CIDADE PERFEITA
A partir de um estudo da Inteli, que analisou 50 projetos municipais exemplares, a VISÃO escolheu cinco para dar a conhecer nas páginas da revista, durante o mês de agosto, um por área analisada: sustentabilidade, inclusão social, governação, inovação e conectividade. Os leitores podem conhecer todos os projetos selecionados das 25 cidades estudadas e, depois, votar no seu favorito, a partir de 1 de Setembro.