A CIÊNCIA QUE ESTUDA o clima é a Climatologia. O que é o clima, esse fantasma que nos envolve, que condiciona as nossas vidas a todos os níveis? A Organização Meteorológica Mundial (OMM) define clima como “a síntese de todos os estados do tempo característicos de uma região”, conjunto de informações sobre temperatura e humidade do ar, nebulosidade, insolação, precipitação (na forma de água líquida e sólida) e evaporação.
O conjunto das informações sobre os estados do tempo, para ser fácil de comparar no tempo, é tratado matematicamente, através dos conceitos da estatística, de média, extremos, classes de frequência, desvio padrão, variância… Mas interessa conhecer o comportamento, no passado distante, particularmente da temperatura, da precipitação e de gases com efeito de estufa como o metano (CH4).
RECORREMOS À ANÁLISE de amostras de gelos: da Gronelândia, com um registo de 150 mil anos, e da Antártida, com um registo de 430 mil anos. Recorremos, também, a sedimentos do fundo de lagos, em regiões nas quais o homem, “o único animal que destrói o seu ambiente”, não tenha tido influência. O fundo dos oceanos já está demasiado poluído. Dos gelos e dos sedimentos concluímos que o clima da Terra está sempre a mudar e como. E enquanto o clima da Terra mudar, a Terra será um planeta vivo. Dos gelos da Antártida concluímos que houve períodos de congelamento muito generalizado: as idades de gelo. Há 25 mil anos, terá havido blocos de gelo junto à costa ocidental de Portugal Continental.
O oceano Atlântico esteve gelado da Europa à América e do Polo Norte até à latitude do Sul das Ilhas Britânicas. Os gelos da Antártida mostram, ainda, que há cerca de 135 mil anos começou um período quente, o interglacial Émiano, que durou até há cerca de 115 mil anos. Os comportamentos da temperatura, da precipitação e do metano, no período Émiano, foram semelhantes aos atuais, o período em que vivemos e que começou há 15 mil anos, com um degelo que pode corresponder à imagem bíblica do Dilúvio Universal.
Da evolução nos últimos 15 mil anos podemos concluir que devíamos estar a caminho de nova era de gelo, adiada pelo aquecimento global. Dos gelos da Gronelândia, concluímos que, há cerca de 1 300 anos, começou, no Hemisfério Norte, um período de seca que durou quase dois séculos e meio. Historicamente, esse período corresponde ao desaparecimento do povo maia um povo evoluído em astronomia mas que dependia muito da agricultura. Outros povos do Hemisfério Norte terão sofrido essa seca, mas só temos notícia da adversidade climática para o povo maia, que terá emigrado, em massa, porque não há cemitérios, no mundo maia.
Da análise dos gelos e sedimentos citados concluímos que há, certamente, influências astronómicas no clima da Terra: a variação da órbita, que provoca a variação da distâncias Terra-Sol, e a variação da inclinação do eixo de rotação da Terra. Mas há muita influência do homem desde que começou a praticar a agricultura, modificando a refletividade das superfícies em relação à radiação solar.
O IPCC, Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas, informa que “se parássemos hoje todas as fontes de poluição da atmosfera, esta demoraria cerca de três séculos para eliminar toda a poluição que o homem lhe tem injetado, particularmente depois da revolução industrial”. As alterações climáticas são mais devidas aos comportamentos do homem do que a fatores naturais.
Bibliografia recomendada
- OS SENHORES DO TEMPO
Tim Flannery (Editorial Presença)
Quem é Anthimio de Azevedo?
Nascido em 1926, nos Açores, Anthimio de Azevedo é licenciado em Ciências Geofísicas e especializado em Meteorologia. Exerceu numerosas funções no Instituto de Meteorologia, tendo sido, durante vários anos, o “rosto” do estado do tempo na televisão, primeiro na RTP e depois na TVI. Já reformado, também foi professor de Climatologia para Engenharia do Ambiente, na Universidade Lusófona.