A Geologia dedica-se ao estudo do planeta Terra, procurando caracterizar os processos que determinam a sua dinâmica e evolução no tempo.
Contudo, à escala Humana, a perceção dos processos geológicos é extremamente lenta, facto que determinou a fundação da Geologia como ciência histórica. As rochas e a sua disposição à superfície preservam indícios dos processos que as originaram; os minerais que as constituem, como o quartzo ou a calcite, são como os carateres de um texto passível de ser decifrado por quem esteja munido das ferramentas para o fazer.
A transformação das rochas umas nas outras resulta de alterações químicas entre minerais, com a intervenção ou não de fases fluidas, e de modificações na sua estrutura cristalina em resposta a variáveis como a pressão e a temperatura. Mas as modificações na superfície da Terra resultam também da intervenção biológica desde o instante em que a Vida emergiu. Identificar e compreender os ambientes do passado, populados por faunas e floras hoje fossilizadas, permite conceptualizar de forma integrada a dinâmica do registo geológico e prover uma visão singular da evolução da vida. Os fósseis foram, por isso, o primeiro relógio geológico até a descoberta da radioatividade permitir datar, de forma absoluta, as rochas que pisamos e usufruímos.
A CONCEÇÃO UNIFICADA DA TERRA
A revolução chegou com a Teoria da Tectónica de Placas. Partindo da hipótese da deriva dos continentes de Alfred Wegener (1912) e no auge da exploração dos fundos oceânicos (anos 50 e 60), a Terra passou a ser um mosaico de placas que se movem entre si. Nos fundos oceânicos, as gigantescas elevações com milhares de quilómetros de extensão são locais geradores de nova crosta, a camada mais externa da Terra, alimentada pelo seu interior, o manto. As fossas profundas, que bordejam continentes ou ilhas dispostas em arco, são locais de retorno da crosta ao manto. O motor reside na dinâmica do manto por via da energia térmica que transfere para a superfície, e apesar de sólido, comporta-se como um líquido muito viscoso à escala de milhões de anos, induzindo o movimento das placas à superfície.
A distribuição das cadeias de montanhas, dos sismos, do vulcanismo e quimismo dos magmas e das acumulações de metais, fonte de matérias-primas, tornou-se subitamente inteligível. Da dinâmica do núcleo gera-se o campo magnético.
GEOLOGIA, SOCIEDADE E O FUTURO
A humanidade enfrenta hoje desafios extraordinários como em nenhum outro momento da História. O aumento demográfico, maior ocupação territorial, maior exposição a catástrofes naturais, maior consumo energético e de tecnologias contendo metais escassos, tem forçado a procura de novas fontes de matéria-prima mineral e energética, condicionando políticas de gestão da água, de avaliação dos riscos geológicos e uso de matérias minerais como agentes mitigadores da poluição e úteis ao confinamento de resíduos radioativos.
A magnitude da atividade antrópica é hoje comparável às forças erosivas da Natureza.
Quanto às alterações climáticas, também a Geologia procura respostas ao estudar o registo dos climas do passado. Num olhar para o futuro, contém as bases científicas para a exploração de planetas rochosos no Sistema Solar. Mais do que simplesmente posicionar o Homem no Universo, a Geologia demonstra a fragilidade da existência humana no único local onde se sabe que a Vida, tal como a conhecemos, existe.
Bibliografia recomendada
- UMA NOVA CONCEÇÃO DA TERRA
Seiya Uyeda
(col. Ciência Aberta, Gradiva, 1992) - THE PLANET IN A PEBBLE: THIRTEEN JOURNEY INTO EARTH’S DEEP HISTORY
Jan Zalasiewicz
(Oxford University Press, 2010) - THE EARTH MACHINE: THE SCIENCE OF A DYNAMIC PLANET
Edmond A. Mathez e James D. Webster
(Columbia University Press, 2004) - FROZEN EARTH: THE ONCE AND FUTURE STORY OF ICE AGES
Doug Macdougall
(University of California Press, 2004)
Quem é Mário Gonçalves?
Doutorado em Geologia pela Universidade de Lisboa onde é docente no Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências, foi geólogo da EDM, SA antes de enveredar pela via académica. A sua área de investigação é a Mineralogia e a Geoquímica, e estuda a mobilidade dos metais e sua fixação em fases minerais no ambiente superficial da Terra, com aplicação à contenção da dispersão de metais no meio ambiente e a armazenagem de resíduos radioativos.