Há uns dias, num daqueles momentos em que olhamos para lá do computador do nosso escritório e percebemos que aquele é o último sítio onde queremos estar, uma ideia ocupava a minha mente, como um sonho acordado – sair daquele espaço fechado, pegar na mão daquela pessoa especial e ir para um espaço verde partilhar um silêncio bom e idílico, acompanhados ou não de um bom livro.
Esta introdução não pretende apenas constituir um reviver de uma memória de um desejo que ficou por concretizar. Pretende sim ilustrar aquilo que muitas vezes constitui, ao final do dia ou nos fins de semana, um escape das pessoas às suas rotinas semanais e stress profissional. Nós sentimo-nos bem quando rodeados de um pouco de Natureza.
Tive a sorte de crescer na zona de Belém, em Lisboa. Aprendi a viver e crescer rodeado de jardins públicos a curta distância. Era frequente com os meus irmãos ou com os meus amigos escolher esses espaços verdes para brincar. O Jardim de Belém, ou antigo Jardim Colonial, hoje Jardim Tropical, constituíam muitas vezes o palco das nossas diversões.
Mesmo sem ser em Belém, Lisboa tem à disponibilidade dos seus habitantes um conjunto de espaços verdes. E estes são usados, basta passarmos por eles ao longo da semana.
Entretanto e por questões profissionais, migrei para o Algarve. Uma região com características bem diferentes, os seus prós e contras e algum acréscimo de qualidade de vida no que respeita à paz diária e redução da velocidade a que vivemos. Hoje vivo na cidade de Lagoa, terra que adotei como minha e que, como concelho, possui todo um conjunto de qualidades que a tornam única no Algarve.
Mas Lagoa, ainda que possua um parque municipal dentro dos limites do seu concelho, constitui um dos exemplos de cidades cujos responsáveis não viram importância em reservar espaços verdes para os seus cidadãos. Existem alguns parques para crianças, mas desprovidos de qualquer verde e junto às estradas. Na própria página do município, no espaço dedicado ao ambiente, menciona-se o investimento na criação de espaços verdes, num texto ilustrado por fotografias de rotundas com palmeiras e canteiros de flores. Rotundas não são jardins.
Este é apenas um exemplo de como muitas das nossas cidades cresceram sem contemplar a necessidade de disponibilizar espaços verdes para os seus cidadãos. No Algarve são muitas as zonas urbanas que existem sem que se veja um único espaço verde. Muitas vezes fazem-se alterações aos planos de urbanismo, atribuindo novas zonas para urbanização sem qualquer justificação demográfica para tal, e sem a preocupação de incluir zonas verdes na sua envolvência. Ou se se encontram no plano, nunca chegam a ver a luz do dia.
Falo desta região por conhecê-la mais de perto desde há uns anos, mas certamente que encontrará réplica em muitas outras ao longo do país. Falta-nos cada vez mais a proximidade com parques e jardins para que, sem que tenhamos que pegar num automóvel, possamos desfrutar de um passeio até a um jardim onde possamos passar tempo em família, com amigos, sozinhos ou com aquela pessoa especial, e não caiamos naquela rotina solitária de nos agarramos a computadores, televisores, consolas de jogos e outras tantas âncoras que nos mantêm em casa, e longe um dos outros.
Vem-me de novo ao pensamento aquela memória inicial. Lembro-me e regresso a esse sonho acordado, onde podia simplesmente fechar o portátil, pegar na mão dessa pessoa e sair num passeio a pé até um desses bonitos jardins da minha infância.