Gonçalo Barradas
Diretor-geral da Galp Búzi
Engenheiro agrónomo, com mestrado e doutoramento no currículo, lecionava na escola agrícola de Elvas quando aceitou o desafio da Galp Energia para instalar o centro experimental de Chissamba, no Búzi. Aos 48 anos, tinha tido uma primeira experiência africana na Guiné-Bissau. Mal chegou a Moçambique, resgatou ao mato duas habitações da Companhia do Búzi e empenhou-se no seu restauro, transformando a primeira em residência e a segunda em casa de hóspedes.
Com a ajuda de Pedro, o seu auxiliar técnico, plantou as primeiras plantas de jatropha numa área que atinge já os 500 hectares, converteu a antiga fábrica de algodão em armazém de sementes, supervisionou as obras da escola local suportadas pela Galp Búzi e lançou os programas de fomento entre os agricultores independentes. Os dias são passados no campo mas, nos fins de tarde, gosta de se sentar à conversa e de beber uma cerveja gelada no decadente Grupo Desportivo do Búzi.
Bom conversador e excelente anfitrião, os seus dias começam cedo e acabam igualmente cedo, quando a noite africana cai como um espesso manto negro e o céu nos mostra constelações só visíveis naquela latitude. Mas, antes de dormir, arranja sempre tempo para ouvir um pouco de música clássica enquanto consulta o e-mail pessoal à velocidade anacrónica de 512 Kb…
Deolinda, Isabel, Rita
Trabalhadoras da Galp Búzi
Deolinda, Isabel e Rita são viúvas, têm entre quatro e cinco filhos cada uma e, embora sorriam hesitantes quando lhes perguntamos a idade, aparentam rondar os 30 anos.
Trabalham no centro experimental de Chissamba, a troco do ordenado mínimo que, em Moçambique, não ultrapassa os 2 050 meticais (cerca de 50 euros). Com os descontos, levam para casa 1 925 meticais, no final do mês. “Não chega para criar filhos, comprar livros e uniformes escolares”, diz Deolinda, a comunicadora do grupo. “Mas temos trabalho o ano todo. Aqui não há outra ocupação.”
Ciente das críticas dos locais à jatropha, remata, com um sorriso nos dentes brancos: “Para nós é bom, dá-nos trabalho.”
Fernando Chadiwa
Produtor independente
Fernando Chadiwa, 52 anos, é um agricultor próspero. Tem telemóvel – que carrega no gerador, embora sejam usados painéis solares nas redondezas -, televisão e, em breve, comprará o primeiro carro.
De estatura baixa, rosto aberto e sorriso franco, este produtor recém-convertido à jatropha – que começou a cultivar em simultâneo com culturas tão diversas como a pêra-abacate, a batata ou o tomate -, decide aproveitar a ocasião para anunciar ao “senhor engenheiro” da Galp Búzi que está a fazer “investigação pessoal”.
E explica-lhe que desenvolveu uma “técnica inovadora” que lhe permite cultivar arroz no capim na outra margem do rio. Mas Gonçalo Barradas duvida da nova “técnica” e recusa o convite para observar a “descoberta”. Está mais preocupado em convencê-lo das vantagens de plantar espécies alimentares, como o feijão, entre as plantas de jatropha.