Nos últimos 30 anos, os incêndios roubaram a Portugal milhão e meio de hectares de zonas florestais. O número é avançado pelo presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Duarte Caldeira, e fica muito aquém da realidade do que tem sido o “encolhimento” das nossas zonas verdes. É que não existem registos oficiais anteriores a 1980 e, sendo assim, não é possível contabilizar devidamente os estragos, apesar de estarmos em altura de balanço: as Nações Unidas decretaram 2011 Ano Internacional das Florestas.
Se em vez de contas passadas preferirmos olhar para o futuro, também não há razões para ficarmos tranquilos: 63% do território nacional é ocupado por espaços florestais não cultivados nem ordenados isto é, zonas de perigo iminente.
A verdadeira causa desta situação não está no aumento do número de incêndios, mas na alteração do modelo de desenvolvimento que se registou no País: o abandono do mundo rural, com a deslocação das populações para o litoral, sobretudo as grandes cidades. “A falta de limpeza das matas é uma consequência e não uma causa. Aliás, nem o Estado tem conseguido manter incólumes as zonas protegidas, como se viu este ano na Peneda-Gerês e na serra da Estrela”, explica Duarte Caldeira.
O DADO 63% do nosso território é ocupado por espaços florestais não cultivados
Para inverter esta situação, fala de uma pequena e de uma grande solução. Ou antes, começa com um objetivo a mais curto prazo: a possibilidade de os proprietários de pequenas parcelas meio milhão se associarem, para porem em prática projetos de ordenamento.
Mas a solução de fundo exige um novo modelo de desenvolvimento: “O fim do mundo rural foi uma morte precoce. Nalgumas zonas há pessoas interessadas em voltar, não as da geração que partiu, mas da seguinte. E, com o desemprego que se verifica nas cidades, seria possível revitalizar algumas regiões. Assim se criem incentivos, designadamente fiscais, que deveriam ser considerados um investimento.”