O relatório bianual, produzido em colaboração com a Zoological Society of London e a Global Footprint Network, utiliza o Índice global Planeta Vivo para avaliar o estado de conservação de aproximadamente 8,000 populações de mais de 2,500 espécies. Este Índice global diminuiu 30 por cento desde 1970, especialmente ao nível das espécies tropicais, cujo índice decresceu 60% em menos de 40 anos.
“A taxa de perda de biodiversidade é alarmante, principalmente nos países tropicais, ao mesmo tempo que o mundo desenvolvido vive num falso paraíso, alimentado por um consumo excessivo e altas emissões de carbono,” afirma Jim Leape, Director Geral da WWF Internacional.
O relatório mostra uma recuperação promissora das espécies de populações de áreas temperadas, provavelmente devido a maiores esforços de conservação e de redução da poluição e do desperdício. No entanto, as populações das espécies tropicais de água doce que foram analisadas diminuíram cerca de 70% – um declínio maior do que o verificado em qualquer espécie terrestre ou marinha.
“As espécies são a base dos ecossistemas,” disse Jonathan Baillie, Director de Conservação e Programas da Zoological Society of London. “Ecossistemas saudáveis estão na base de tudo o que temos – se os perdemos destruímos o suporte do nosso sistema de vida.”
A pegada ecológica, um dos indicadores usados no relatório, mostra que a nossa pressão sobre os recursos naturais duplicou desde 1966 e que estamos a usar o equivalente a 1.5 planetas para suportar as nossas actividades. Se continuarmos a viver para além dos limites da Terra, em 2030 precisaremos do equivalente à capacidade produtiva de dois planetas para satisfazer a nossa pressão anual sobre os recursos naturais.
“O relatório mostra que se este ritmo de consumo continuar, caminharemos para um ponto de não retorno,” acrescentou Leape. “Seriam necessários 4,5 planetas para suportar a vida da população global, se considerarmos a média de consumo de uma pessoa que viva nos EUA ou na União Europeia.”
As emissões de carbono são a principal causa da tendência do planeta para um eventual colapso ecológico. A pegada de carbono aumentou cerca de 11 vezes nas últimas cinco décadas, o que significa que, hoje em dia, as emissões de carbono representam mais de metade da Pegada Ecológica global.
No top 10 dos países com a maior Pegada Ecológica por habitante estão os Emirados Árabes Unidos, Qatar, Dinamarca, Bélgica, Estados Unidos, Estónia, Canadá, Austrália, Kuwait e Irlanda.
Os 31 países da OCDE, que incluem as mais ricas economias do mundo, representam quase 40 por cento da pegada global. Actualmente, são quase o dobro das pessoas que vivem nos países BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China – comparativamente aos países da OCDE; o relatório mostra que actualmente a pegada ecológica das pessoas que vivem nos países BRIC está numa trajectória que poderá ultrapassar o bloco OCDE, caso sigam um modelo de desenvolvimento semelhante.
“Países que mantêm altos níveis de dependência de recursos estão a colocar as suas próprias economias em risco,” disse Mathis Wackernagel, Presidente da Global Footprint Network. “Os países capazes de oferecer maior qualidade de vida baseada numa menor pressão ecológica não servirão apenas interesse global, serão líderes num mundo de contenção de recursos.”
O relatório evidencia ainda que o declínio profundo da biodiversidade é menor nos países com menores rendimentos, onde se verificou um declínio de aproximadamente 60 por cento em menos de 40 anos.
A maior pegada ecológica encontra-se nos países com maiores rendimentos, sendo cinco vezes superior, em média, à dos países com menores rendimentos, o que sugere que o consumo insustentável nas nações mais ricas depende largamente dos recursos naturais das nações mais pobres (normalmente países tropicais ricos em recursos naturais).
O Relatório Planeta Vivo evidencia ainda que uma pegada e nível de consumo elevados, frequentemente obtido à custa de outros, não se reflectem em maior desenvolvimento. O Índice Desenvolvimento Humano da ONU, que integra indicadores como a expectativa dvida, rendimento e educação, pode ser mais elevado em países com uma pegada média.
O relatório chama a atenção para as soluções necessárias para garantir que o planeta possa continuar a ser o suporte de uma população global que se espera venha a ultrapassar os nove mil milhões de habitantes em 2050. O relatório indica ainda opções críticas que se deverão tomar ao nível do consumo e da eficiência energética para reduzir a pegada, assinalando ainda como positivos os esforços para valorizar e investir no capital natural.
“O desafio que o Relatório Planeta Vivo coloca é claro”, afirma Leape. “Precisamos de alguma forma, de encontrar um caminho para satisfazer as necessidades de uma população em crescimento com os recursos deste planeta. Todos nós temos que encontrar uma forma de fazer escolhas melhores sobre o que consumimos e como produzimos e usamos a energia.”