Nos últimos 40 anos assistimos a um crescimento económico e da população humana sem precedentes. Este período conduziu à emergência de novas economias e uma consequente melhoria do bem-estar social e económico nesses países. No entanto, esta situação coloca-nos também perante novos desafios – um deles, o de satisfazer as necessidades duma crescente população mundial.
O crescimento do consumo coloca pressões insustentáveis sobre os recursos do planeta. O Relatório Planeta Vivo, publicado em Outubro, mostra que houve, neste mesmo período, um crescimento de 60% na Pegada Ecológica da Humanidade, enquanto os Ecossistemas e a Biodiversidade tiveram uma perda de 30%. Esta situação enfatiza a necessidade de compatibilizar o desenvolvimento económico e humano com a gestão racional dos recursos naturais, da biodiversidade e dos ecossistemas.
O crescimento económico tem alimentado uma sempre crescente procura por recursos – alimentos, água, energia, matérias-primas, espaço para viver e espaço para depositar resíduos. À medida que os países se desenvolvem, e a sua economia cresce, a pressão exercida pelas pessoas sobre o mundo natural começa a exceder a capacidade produtiva e regenerativa dos seus ecossistemas e recursos.
Isto levanta questões sobre como podemos adaptar os modelos económicos, gerir as empresas e adoptar estilos de vida mais sustentáveis. Estas redefinições devem contribuir para um modelo de desenvolvimento que se quer inclusivo dos imperativos de conservar os recursos naturais do planeta, harmonioso com a sua capacidade regenerativa e que valore o capital natural no valor real dos bens e serviços que os ecossistemas fornecem.
É da crise que surge a mudança. A crise económica dos últimos dois anos constitui uma oportunidade de reavaliar o modelo económico quanto ao uso dos recursos naturais do mundo. Existem sinais de mudança. A iniciativa Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (TEEB), que marcou o Ano Internacional da Biodiversidade, está a chamar a atenção para os benefícios económicos globais da biodiversidade, e oportunidades daí resultantes, realçando os crescentes custos da perda de biodiversidade e degradação dos ecossistemas.
Em Portugal, condicionalismos socioeconómicos têm conduzido à gestão inadequada ou até abandono do espaço rural, com consequente perda de produtividade, de biodiversidade e de valor. O abandono rural levou à não gestão e à homogeneização do território, e muitas destas áreas rurais tornaram-se paisagens propensas à ocorrência de incêndios de grande intensidade. A gestão sustentável da terra é crucial para manter os ecossistemas e a sua biodiversidade e aumentar o valor da terra nas áreas rurais, como estímulo para ai manter a população.
São necessários novos mecanismos capazes de promover a conservação e gestão sustentáveis destes território rurais. O Pagamento por Serviços do Ecossistema é uma ferramenta da Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade, que pode gerar incentivos a boas práticas de gestão e contribuir para a revitalização do espaço rural Português. Uma oportunidade de reinventar o espaço rural.
Leituras adicionais:
Relatório Planeta Vivo 2010,
http://www.wwf.pt/o_que_fazemos/por_um_planeta_vivo/edicao_2010/
Relatório Hotspots de Biodiversidade e Serviços do Ecossistema Montado
http://www.wwf.pt/o_que_fazemos/hotspots_de_biodiversidade_e_servicos_do_ecossistema_/