
É uma análise demolidora para os países mais desenvolvidos: apesar de toda a retórica, os mais ricos não estão a fazer o suficiente para garantir que o planeta não aqueça mais de 1,5 ºC, o limite “ideal” do Acordo de Paris. A conclusão é do Climate Action Tracker (CAT), um projeto científico que acompanha as ações dos diferentes Estados no caminho para a redução de emissões.
Para este relatório foram estudados os planos climáticos de 36 países, mais a União Europeia como um todo. Todos os membros do G20 estão incluídos na lista, a que se soma uma seleção de países que não pertencem ao grupo dos economicamente mais desenvolvidos. Juntos, estes Estados são responsáveis por 80% das emissões de gases com efeito de estufa totais.
O CAT dividiu os países em cinco categorias, de acordo com a análise dos planos climáticos de cada um: na pior categoria (“criticamente insuficiente”), estão a Rússia, o Irão, a Tailândia, Singapura e a Arábia Saudita. Na segunda pior (“altamente insuficiente”), encontram-se, entre outros, o Brasil, a Austrália, o Canadá, a Índia e a China. A UE surge na categoria de “insuficiente”, acompanhada pelos EUA, a Noruega, a Alemanha a Suíça, o Japão, a África do Sul, o Peru e o Chile.
Enquanto os ricos marcam passo, os pobres parecem estar a fazer a sua parte. Na categoria de “quase suficiente”, estão alguns dos que têm os mais baixos PIB per capita do mundo, como a Etiópia, o Quénia e o Nepal (com o Reino Unido a ser o único do G20 incluído nesta lista dos que estão “quase” no bom caminho).
Finalmente, a categoria positiva – “compatível com a meta de 1,5 ºC de Paris, ou seja, está a implementar medidas adequadas de redução de emissões – tem um só país, a Gâmbia, um dos mais pobres do mundo.
Países a andar para trás
“Em maio, após a Cimeira Mundial dos Líderes pelo Clima [convocada por Joe Biden] e o Diálogo Climático de Petersberg, relatámos que parecia haver um bom ímpeto com novos compromissos de ação climática”, disse Niklas Höhne, do NewClimate Institute, uma entidade parceira do CAT. “Mas, desde então, houve pouca ou nenhuma melhoria: não está a acontecer nada. (…) Até parece que temos todo o tempo do mundo, quando na verdade o oposto disso. ”
Outro analista que esteve envolvido no relatório, Bill Hare, da Climate Analytics, apontou o dedo a vários países. “São particularmente preocupantes a Austrália, o Brasil, a Indonésia, o México, a Nova Zelândia, a Rússia, Singapura, a Suíça e o Vietname: não conseguiram subir a ambição, apresentando as mesmas metas, ou até menos ambiciosas, para 2030 do que as apresentadas em 2015. Esses países têm de repensar as suas opções.”
Bill Hare lembrou que o IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) ativou um “código vermelho” há pouco mais de um mês, com o seu Sexto Relatório de Avaliação, o que “reforçou a necessidade urgente de cortar para metade as emissões até 2030”. “Um número crescente de pessoas em todo o mundo está a sofrer com os impactos cada vez mais graves e frequentes das alterações climáticas, mas a ação governamental continua atrasada em relação ao necessário. Embora muitos governos se tenham comprometido com a neutralidade carbónica, sem uma ação de curto prazo, atingir essa neutralidade é virtualmente impossível.”
Esta é a lista completa do CAT:
Criticamente insuficiente: Rússia, Irão, Tailândia, Singapura e Arábia Saudita
Altamente insuficiente: Brasil, Austrália, Canadá, Índia, China, Argentina, Colômbia, Indonésia, Cazaquistão, México, Nova Zelândia, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Ucrânia e Vietname
Insuficiente: UE, Chile, Alemanha, Japão, Noruega, Suíça, Peru, África do Sul e EUA
Quase suficiente: Costa Rica, Etiópia, Quénia, Marrocos, Nepal, Nigéria e Reino Unido
Compatível com a meta de 1,5 ºC de Paris: Gâmbia