Os incêndios e as altas temperaturas a que temos assistido nas últimas semanas servem de alerta para o que os cientistas há muito têm vindo a dizer: as alterações climáticas vão tornar as nossas vidas muito mais difíceis. No entanto, há ainda um número significativo de cidadãos que não percebem ou não aceitam a existência de um aquecimento global provocado pela atividade humana.
Mas porque é que tanta gente ainda tende a negar as alterações climáticas? Uma das razões pode ser o otimismo. Isto é, podemos ser pessimistas em relação ao mundo, mas “quando se trata de como as coisas nos podem afetar, geralmente somos muito mais otimistas, muito mais inclinados a pensar que vai ficar tudo bem”, explica à Sky News Kris de Meyer, neurocientista do Kings College London e especialista em psicologia das alterações climáticas.
E mesmo que não estejamos bem, se estivermos, por exemplo, no meio de uma inundação, explica Charles Ogunbode, psicologista ambiental, os estudos mostram que tendemos a “ainda a recorrer” a narrativas existentes e “facilmente disponíveis” para escapar.
“Os fatores e valores políticos geralmente ultrapassam a experiência individual quando se trata da perceção das pessoas”, acrescenta. Os estudos em que participa concluem que as narrativas contrárias causam uma certa confusão aos que defendem as alterações climáticas. Nick Pidgeon, que estuda as perceções de risco climático na Universidade de Cardiff, diz que os cidadãos mais de direita “tendem a ser um pouco mais céticos sobre o clima do que os da esquerda, por várias razões”.
Além do otimismo, existe uma espécie de “associação positiva” às altas temperaturas, normalmente em países como o Reino Unido, que têm um clima temperado, muitas vezes surpreendidos por chuvas: “Sempre tivemos uma associação positiva com temperaturas quentes”, acrescenta Ogunbode.
O especialista explica que esta associação foi alimentada por figuras públicas que comparam o clima quente a destinos desejáveis. Além disso, as imagens dos países mais quentes são sempre representados por pessoas nas praias, a refrescarem-se, algo que não ajuda. “Evoca algo bastante positivo… Esse é o problema com o calor em particular”.
Mas mais: o “específico” e o “concreto” podem ser “muito surpreendentes”, diz Meyer. Tendo como base a pandemia, o especialista explica: “Quando o segundo confinamento chegou, muitas pessoas ficaram novamente surpreendidas com a gravidade da situação … mesmo tendo passado pelo primeiro confinamento nove meses antes”.
Também, na nossa mente, os benefícios de curto prazo “tendem a vencer nas decisões quotidianas” que tomamos no piloto automático ou sem pensar, afirma Meyer. Mas as pessoas, por si só, “são capazes de renunciar aos prazeres presentes em prol dos ganhos futuros”, explica, exemplificando quando nos abstemos de um doce porque sabemos que faz mal à saúde.
E estes comportamentos podem ser mudados, tendo em conta a sociedade. Pidgeon, professor da Universidade de Cardiff, garante que, por exemplo, “o que os políticos dizem realmente importa”. Os comentários das pessoas importantes sobre as alterações climáticas podem “ser vistos como influência para que a opinião pública mude depois”, acrescenta.
Muitas vezes, as pessoas também não relacionam os riscos com as mudanças no clima. Nos estudos que estão a ser desenvolvidos, a maioria das pessoas “não mencionam particularmente a seca como o fracasso das colheitas… O que é algo que nos preocupa”, analisa Pidgeon. Muito menos associam as mudanças climáticas com “pragas e doenças invasivas que chegam ao país como resultado do aumento das temperaturas”.
Mas “apenas o medo” “não é suficiente para nos fazer agir”, explica Kris de Meyer. O que vai ajudar os indivíduos a “fazer boas escolhas” é ouvir histórias sobre “ação”.