Coube-lhe a difícil tarefa de se seguir à humorista Joana Marques, na primeira manhã do VISÃO Fest, mas o Presidente da Assembleia da República arrancou uma gargalhada geral à sala no Planetário de Marinha, em Lisboa, assim que usou da palavra: “A minha idade excede a soma das vossas em seis anos”.
Augusto Santos Silva esteve à conversa com três jovens universitários sobre as preocupações destes e recordou os seus tempos de juventude, com espaço para algumas confissões: chegou a entrar em rota de colisão com o histórico socialista Mário Soares por acreditar que o PS deveria ser mais disruptivo, mas a idade moderou-lhe esta convicção.
“Hoje, sou radical na moderação. Sou a favor do compromisso e do diálogo. Cheguei a querer menos conservadorismo, mas hoje dou razão a Mário Soares nisso”, disse, em resposta a Francisco Bagorro, aluno de Direito, acrescentando que isto não significa que a “posição do centro tenha de ser a posição sonsa”. Ser moderado é tomar um partido, defendeu Augusto Santos Silva, que se congratulou com a presença de 197 deputados do centro e centro-direita na casa da Democracia.
Todavia, o presidente da Assembleia da República quis sublinhar que prefere ver os extremismos representados no hemiciclo a estarem ausentes deste: “Prefiro ter as pessoas que querem acabar com a democracia dentro da AR do que fora das instituições democráticas”, ou seja, com espaço para se exprimirem nos locais adequados.
Além de que no Parlamento, “apenas um pequeno grupo acha que a nossa ordem constitucional tem de ser alterada”, disse, referindo-se aos 12 deputados do Chega. “Temos de valorizar a nossa circunstância, em Portugal. Temos uma grande força”.
“Ao Augusto Santos Silva de 23 anos diria para pôr na luta contra as alterações climáticas o mesmo vigor que pretendia impor na implantação do marxismo-leninismo”
Durante a conversa -. moderada pelo editor executivo da VISÃO Filipe Luís -, o presidente da AR falou ainda sobre os principais problemas que afetam as novas gerações, dos preços “imorais” da habitação à educação, da emigração até à “luta da nossa vida” – as alterações climáticas, o tema a que, assume, se dedicaria com mais empenho se o tempo voltasse atrás.
“Ao Augusto Santos Silva de 23 anos diria para pôr na luta contra as alterações climáticas o mesmo vigor que pretendia impor na implantação do marxismo-leninismo”, sublinhou, respondendo à pergunta da estudante de Engenharia Aeroespacial Iara Figueiras.
Sobre as dificuldades que atingem os jovens de hoje, Santos Silva elegeu os preços elevados da habitação como uma das suas principais preocupações, considerando que, no caso do alojamento estudantil, as instituições universitárias deveriam assumir um papel mais pró-ativo na procura de soluções, colocando a hipótese destas deverem complementar o Estado com comparticipações.
Mas os estudantes também não podem ficar de braços cruzados à espera que as dificuldades se resolvam por si, segundo o socialista. Afinal, “o recurso que os jovens mais deveriam dispensar é o paternalismo dos outros” e travarem as suas próprias lutas na habitação, mas também, por exemplo, no mundo laboral.
“O que mais me perturba é termos uma geração mais qualificada, mas que não tem uma capacidade equivalente para criar riqueza, oportunidades”, defendeu Augusto Santos Silva, lançado o repto aos jovens em palco e na assistência para tomarem conta do seu futuro.