Oito meses após o início da invasão russa da Ucrânia, “há a possibilidade de a Rússia se desintegrar como Estado, e esse é o grande perigo, porque tem cerca de 1 750 ogivas nucleares”, alertou José Milhazes, este sábado, 22, num painel subordinado ao tema “A guerra e a paz possível?”, realizado no âmbito do VISÃO Fest, que decorre no Planetário de Marinha, em Belém (Lisboa).
Para aquele historiador e comentador, “a Rússia não vai ganhar a guerra”, porque “o aparelho não consegue criar a mobilização que Putin pretende”, e “porque a superpotência de garganta está a perder milhares de jovens” na frente de combate. Foi sob estes pressupostos que José Milhazes colocou a possibilidade apocalíptica da eventual implosão da Federação Russa, como aconteceu com o império dos czares, na I Guerra Mundial (1914-18), e com o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1991.
Já a jornalista Cândida Pinto, outra participante no painel, e que estava em Kiev quando a invasão russa se iniciou, a 24 de fevereiro passado, lembrou que o seu guia e tradutor local lhe disse, nessa altura, “uma coisa que é verdade: ‘O Putin conseguiu fazer pela Ucrânia o que nunca ninguém conseguiu realizar em 30 anos de independência, que foi uni-la’”. Mas a jornalista acrescentou: “Temo que um amanhã que possa trazer uma solução para o conflito na Ucrânia demore muito.”
A propósito da aproximação da Ucrânia à União Europeia e à NATO, José Milhazes referiu que “os russos sempre tiveram um complexo de inferioridade em relação à Europa”. E exemplificou: “Dostoievski odiava a Europa.”
O historiador e comentador aludiu também ao “espírito messiânico russo de libertação do mundo”, como impulso das ações de Putin, e que “no tempo da URSS se chamava internacionalismo proletário”.
Por seu lado, Sónia Sénica, professora universitária igualmente participante no painel, avisou que uma eventual queda de Putin “não vai necessariamente indicar uma liderança democrática da Rússia”. Acrescentou mesmo: “Certamente, não vai.” Referiu, a propósito, que Alexei Navalny, tido como o opositor que Putin mais receia, e que se encontra atualmente preso, “é um político nacionalista” e que, em 2014, “apoiou a anexação da Crimeia”.
Mas haverá uma luz ao fundo do túnel? Diz José Milhazes: “Não vejo o túnel e muito menos a luz.”