As alterações climáticas sentidas no planeta, e as respetivas consequências, necessitam de ser enquadradas cientificamente, a fim de percebermos o seu verdadeiro impacto nos ecossistemas terrestres. É através do estudo dos pinguins e da análise da sustentabilidade das cadeias alimentares na remota Antártida, que o biólogo José Xavier tenta desenhar uma imagem do futuro, procurando pistas sobre o que poderá acontecer nos restantes continentes, nos próximos anos.
“Às vezes podemos perguntar-nos se alguém realmente quer saber o que se passa na Antártida. A resposta é sim”, afirma, sem sombra de dúvida, ao abrir o segundo painel de palestras, este domingo, no VISÃO FEST Verde. E porque “o Mundo quer saber o que se passa com os Oceanos, com a acidificação das águas e com as alterações climáticas” é tão importante o trabalho dos cientistas que rumam a Sul a fim de estudar as formas de vida em condições extremas e a capacidade que estas têm, ou não, de adaptar-se às mudanças cada vez mais aceleradas, registadas na temperatura das águas.
“As imagens do nosso Planeta são fantásticas. Chegar à Antártida e ver um iceberg de um quilómetro e meio é inesquecível, mas uma imagem científica é igualmente importante e essencial”, afirma o biólogo, desenhando, porém, uma pouco auspiciosa. “Ao analisarmos as zonas de stress climático, junto das costas da Antártida, previmos que, até 2100, estas poderão afetar todo o continente”. José Xavier revelou ainda que, até 2070, o nível da água do mar, na Antártida, poderá mesmo aumentar até três vezes. “Já estão a existir alterações no Oceano que, se nada for feito, daqui a uma ou duas décadas terão custos enorme”, alerta. O biólogo apontou para dois cenários, em que, no melhor dos casos, as águas subirão seis centímetros e, no pior, 27.
É, por isso, fundamental identificar que espécies animais melhor se adaptam à subida da temperatura da água do mar, para podermos prever que mundo teremos dentro de algumas décadas. “Os Pinguins Rei têm-se adaptado bem, enquanto os Macaroni estão a ser extremamente afetados. Analisamos também lulas, peixes e crustáceos para perceber se estes têm armas genéticas de adaptação, o que nos mostra que mar teremos daqui a 20 ou 30 anos”, explica José Xavier e conta, “em 2019, já encontramos microplásticos na cadeia alimentar desta zona remota do globo”.
O biólogo apontou ainda para a importância planetária desempenhada pela atividade científica desenvolvida na Antártida e referiu ser essencial “uma enorme proximidade entre esta atividade e a formulação de leis que permitam proteger o Planeta”.
José Xavier terminou com uma nota de esperança, salientando que, para defender o planeta não é preciso que todos os jovens escolham uma carreira como biólogos marinhos, “basta que sejam os melhores cidadãos possíveis”.
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