A New Yorker considerou-o um dos “world changers” da década, foi vencedor do Prémio Galileu 2018 e os seus livros são best-sellers internacionais. Stefano Mancuso, professor associado da Universidade de Florença, é um dos maiores especialistas do mundo em neurobiologia vegetal. O que é isso? A ciência que estuda a inteligência das plantas. Se por esta altura estiver a revirar os olhos e a pensar – só faltava mais esta! –, não será o único. Os estudos de Mancuso abordam o que durante séculos era considerado impensável: a ideia de que as plantas têm habilidade cognitiva. Diferente da dos humanos e dos outros animais, é certo, mas não necessariamente inferior. Um trabalho com tanto de controverso, como de absolutamente fascinante.
Ouvi-lo – como vai poder fazer no VISÃO FEST, no próximo dia 24, sábado-, e ler os seus livros (a maior referência é a Revolução das Plantas, uma leitura deliciosa) é entrar num maravilhoso mundo vegetal até agora desconhecido. É preciso começar por perceber que as plantas são 85% da biomassa do planeta – todos os animais da Terra juntos representam apenas 0,3%. De um ponto de vista quantitativo, a vida neste planeta é verde. No entanto, a evolução fez crescer no Homem o que ele chama de “cegueira vegetal”.
A ideia de que, porque temos um cérebro muito desenvolvido, somos mais inteligentes e fortes do que todas as outras espécies – facto que ainda está para comprovar. A média de vida de uma espécie na Terra é de dois a cinco milhões de anos. O Homo sapiens viveu apenas 300 mil anos, escreve Mancuso. Já fomos capazes de quase destruir o nosso meio ambiente, como podemos dizer que somos espécies melhores ou mais avançadas?
Mancuso explica que as plantas são um modelo de modernidade. “Dos materiais à autonomia energética, da capacidade de resistência às estratégias de adaptação, desde os primórdios que as plantas fornecem as melhores soluções para a maioria dos problemas que afligem a Humanidade.” Como não se podem movimentar – e fugir do problema como os homens –, adaptam-se e encontram estratégias para resolver esses problemas.
“Com o intuito de ultrapassar os problemas relacionados com a predação, as plantas evoluíram por um caminho único e insólito, desenvolvendo soluções de tal modo distintas das dos animais. São organismos tão distintos que podiam ser extraterrestres: os animais deslocam-se, as plantas estão imóveis; os animais são velozes, as plantas são lentas; os animais consomem, as plantas produzem; os animais emitem CO2, as plantas fixam CO2… e assim por diante até à síntese concludente que se traduz em dispersão versus concentração. Qualquer função que nos animais esteja confiada a órgãos específicos, nas plantas está dispersa por todo o corpo. Trata-se de uma diferença fundamental, cujas consequências são difíceis de compreender inteiramente.”
Uma coisa é certa. A abordagem dos humanos nunca foi a de tentar ir longe neste entendimento, porque procuramos replicar a nossa forma de ser e ver o mundo, através das nossas funções humanas. “Na prática, o Homem procurou sempre replicar o essencial da organização animal na construção dos seus instrumentos. Tudo o que o Homem projeta tende a ter, de um modo mais ou menos evidente, esta arquitetura: um cérebro central que controla os órgãos que executam os seus comandos. Até as nossas sociedades estão construídas segundo este desenho arcaico, hierarquizado e centralizado.” Um modelo cuja única vantagem é fornecer respostas rápidas. Já as plantas, não possuindo um órgão equiparável a um cérebro central, conseguem percecionar o ambiente envolvente com uma sensibilidade superior à dos animais e respondem a esses estímulos de forma descentralizada e radicular, explica Mancuso.
“A complexa organização anatómica das plantas e as suas principais funcionalidades exigem um sistema sensorial muito desenvolvido que permita ao organismo explorar com eficiência o ambiente circundante e reagir com prontidão a acontecimentos potencialmente prejudiciais. Deste modo, a fim de utilizarem os recursos ambientais, as plantas recorrem entre outras coisas a um complexo sistema radicular formado por ápices em constante desenvolvimento, que exploram de um modo ativo o solo. Não é por acaso que a internet, o principal símbolo da modernidade, está construída como uma rede radicular”, sublinha.
É com este pressuposto que partimos com Mancuso, sem preconceitos, à descoberta de factos fascinantes. Coisas como a memória das plantas. Através da Mimosa pudica, uma planta cujas folhas se fecham quando é tocada ou abanada, percebemos que as plantas podem distinguir tipos de estímulos e memorizá-los até 40 dias. Como é que isso acontece em seres desprovidos de cérebro ainda é um mistério. Ou como dominam a arte da manipulação dos animais para as servir em seu bel-prazer, e propagar e fazer perdurar as espécies. Ou como conseguem ver sem olhos, à sua maneira, percecionar o ambiente e mimetizar o que têm à sua volta: uma trepadeira como a Boquilla trifoliata, consegue ter, ao mesmo tempo na mesma planta, três aspetos de folhas completamente diferentes porque copia e adapta-se, “camaleonicamente”, aos arbustos pelos quais trepa para se dissimular. Ou como se movem sem ter músculos, através de sistemas hidráulicos de transporte de água e vapor.
Garantimos – nunca mais vai olhar para as suas plantas da mesma forma.
Venha ouvir Stefano Mancuso no VISÃO FEST Verde no dia 24 de outubro, ou acompanhe por streaming. Saiba tudo sobre o VISÃO FEST Verde aqui.
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