A escassas horas de deixar o último acampamento rumo ao topo do Evereste, o alpinista português Rui Silva sente a hesitação na voz de David Hamilton, líder da expedição. Com nove subidas ao cume situado a 8 850 metros de altitude, o escocês de 59 anos está entre os dez ocidentais com maior número de “visitas” ao pico mais alto do planeta. Nessa terça-feira, 21 de maio, comunica ao grupo que o segue há quase dois meses, desde o sopé da montanha: “Estamos na iminência de entrar num desastre e não sei como o evitar.” Se tudo tivesse corrido como planeado, Rui Silva, um casal de ucranianos e três britânicos haviam arrancado na noite anterior, na companhia de oito sherpas e do guia escocês, para atingirem o teto do mundo na manhã seguinte.
O normal é chegar ao campo superior – já dentro da chamada zona de morte, acima dos 8 000 metros, onde não existe oxigénio suficiente para sobreviver – ao início da tarde e zarpar para o cume entre as 21 e as 22 horas do mesmo dia. O motivo é básico: quanto menos tempo passado nestas altitudes extremas, sem possibilidade de recuperar energia, menor o desgaste acumulado no corpo.